Uma eventual tentativa da França de atrasar o fechamento da nova versão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE) pode ter consequências trágicas, disse nesta segunda-feira (18) o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em viagem a Nova York.
"O presidente Lula está insistindo com a Europa para que a gente feche o acordo ainda este ano. Não sei o que será do Mercosul se o acordo não estiver fechado e tivermos um resultado 'exótico' nas eleições na Argentina. Um país como a França tem de prestar atenção às consequências de um atraso", declarou o ministro durante painel "A Economia Brasileira Rumo à Transformação Ecológica", promovido pela Universidade de Columbia, em Nova York.
Segundo o ministro, o fechamento do acordo é importante porque a criação de uma nova zona de livre-comércio deslocaria "o centro de gravidade" da economia global.Mais cedo, em outro evento, Haddad disse que o Brasil pode usar a matriz energética verde para buscar um status privilegiado nas negociações bilaterais com os Estados Unidos, mesmo o país não tendo acordo de livre-comércio com o país norte-americano. Segundo ele, o tema será discutido na reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Joe Biden na próxima quarta-feira (20).
"Estamos um pouco amarrados em torno de conceitos que às vezes não se adequam à situação particular de Brasil e Estados Unidos. Não temos acordo de livre comércio com os Estados Unidos, mas não é por isso que não podemos ter um status privilegiado nas negociações bilaterais, pelo fato de estamos no mesmo continente, termos valores comuns históricos e culturais", declarou Haddad no evento "Transformação Ecológica e Econômica no Brasil e na Amazônia".
Entre os valores que o Brasil e os Estados Unidos podem explorar conjuntamente, disse Haddad, está a agenda verde. O ministro afirmou que os consumidores norte-americanos consomem muitas mercadorias produzidas no México, que não tem uma matriz energética tão limpa como a do Brasil. Segundo Haddad, o governo norte-americano está interessado em diminuir a "pegada de carbono" dos consumidores da maior economia do planeta.
"Não podemos deixar uma potência como os Estados Unidos de costas para o Brasil, quando a eles interessa uma aproximação e a nós também. O Brasil está com uma legislação absolutamente adequada. Nós podemos tanto exportar essa energia limpa para países dependentes de combustível fóssil, como usar internamente para produzir manufatura verde", declarou o ministro
Durante a tarde, Haddad teve uma reunião bilateral com o enviado presidencial do Governo dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry. O encontro foi privado, mas Haddad e Kerry participaram do evento posterior, promovido pela Universidade de Harvard.
Durante o painel da Universidade de Columbia, o ministro também disse que a meta do governo brasileiro de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030 pode ser alcançada. "Temos o compromisso de zerar esse desmatamento até 2030. Eu penso que é factível. Não vejo dificuldade em cumprir a meta de desmatamento [zero], o governo está engajado nisso", destacou o ministro.
Apesar de a preservação da Floresta Amazônica ser um objetivo central do governo, Haddad disse que o tema se insere dentro da transformação ecológica que o Brasil quer promover. "Temos enorme potencial de aumentar produção de energia limpa para consumo interno, exportação e para manufaturar produtos verdes", declarou. Segundo Haddad, a reforma tributária contribuirá para a transição do país para uma economia mais verde e sustentável.
Em relação à presidência brasileira no G20, grupo das 20 maiores economias do planeta, o ministro afirmou que o Brasil usará o mandato para impor discussões importantes, como o endividamento dos países e os juros altos na maioria do planeta. "Temos condições de oferecer possibilidades de discussão de temas relevantes. Vamos tentar encontrar soluções para os problemas da maioria dos países, como a questão do endividamento e dos juros altos", afirmou.
Em relação ao aumento de gastos públicos por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia, Haddad disse que os governos precisam prestar atenção aos mais pobres em vez de gastarem com armamentos. "O mundo precisa de atitudes mais generosas. É um show de desperdício diante de tanta miséria", completou.