Romeu Zema sempre pareceu ser um político esperto. Com aquele jeitinho de quem vai comendo pelas bordas, conseguiu se reeleger como governador de Minas. Embora tenha feito campanha no segundo turno para o ex-presidente, jamais se mostrou aliado de Bolsonaro. O apoio que deu na etapa final das últimas eleições foi muito bem calculado. Se Bolsonaro vencesse, teria o mandato até 2026. O nome mais forte entre os aliados do então presidente para substituí-lo no Palácio do Planalto era o de Tarcísio Gomes de Freitas, que já estava com as duas mãos na taça em São Paulo. Noves fora nada, em 2026, pelo fato de ter cumprido os dois mandatos, Bolsonaro não poderia mais se candidatar. Tarcísio sim teria condições de concorrer à reeleição ao Palácio dos Bandeirantes. Como o governador mineiro também cumpriria a sua segunda gestão, estaria sem cargo. Por ter apoiado o ex-presidente, considerando que haveria reciprocidade natural, seria o candidato à presidência.
A derrota de Bolsonaro, entretanto, mudou todo o cenário, e Zema teve de rearrumar as peças no tabuleiro. Sem ocupar cargo político, o ex-presidente, em 2026, seria sim candidato a voltar à presidência. E, por isso, a partir da sua saída do governo, passou a ser olhado como oponente do governador mineiro. Levantei essa bola nesta coluna em 24 de novembro do ano passado, isto é, há exatos dez meses. Ao conceder entrevista à Rádio Super 91,7 FM, da capital mineira, Zema afirmou: "O governo federal e a gestão do presidente Bolsonaro não foram felizes na comunicação". E após censurar mais algumas vezes o ex-chefe do Executivo, deu a cutucada final: "O presidente Bolsonaro perdeu para si mesmo, devido a uma forma de condução da comunicação". Ora, ora, que necessidade ele tinha para dar essas alfinetadas?! Estava na cara que esse era o discurso de um adversário. Com a inelegibilidade de Bolsonaro, mais uma vez as peças precisaram ser rearranjadas. Só que desta vez parece ter havido um erro de cálculo por parte de Zema.
Na segunda-feira, 25, ao participar de um evento do Grupo Lide, que é a própria imagem de João Doria, um dos maiores desafetos do ex-presidente, voltou a atirar suas flechas. Além de criticar Bolsonaro novamente pela conduta equivocada na questão da pandemia, desferiu golpes abaixo da linha da cintura: "Apesar de nós termos 320 mil servidores públicos, não tenho nenhum parente. Então, também temos uma diferença: família para lá, negócios e carreira para cá". Quem ouviu seu discurso pode ter entendido que Bolsonaro se valeu de suas funções públicas para dar emprego aos filhos. Talvez o governador tenha se esquecido de que todos eles foram eleitos pelo voto popular. O objetivo, ao que tudo indica, não é atingir apenas Bolsonaro como concorrente direto, pois ele está proibido de disputar qualquer pleito. O que, na verdade, Zema pretende com essas atitudes é tentar desqualificar o mais relevante cabo eleitoral de Tarcísio para 2026. Dá a impressão, todavia, de que não analisou bem o que aconteceu com todos aqueles que um dia resolveram bater de frente contra o ex-presidente. Não ficou um deles de pé para contar a história.
Só para citar alguns de passagem: Joice Hasselmann, Alexandre Frota, Wilson Witzel, Mandetta, Doria. Sem contar Sérgio Moro, que depois de atacá-lo, precisou correr para pedir socorro senão perderia a eleição ao Senado. A lista é extensa. Ao contrário, quem seguiu firme ao lado dele, conquistou vitórias extraordinárias. É o caso de Tarcísio Gomes de Freitas, General Mourão, Carla Zambelli, Ricardo Salles, Nikolas Ferreira, Damares. Esta lista também é enorme. Ainda que o governador mineiro diga que não é candidato, todo mundo sabe que é. Tanto assim que já ligou a metralhadora giratória. Só precisa tomar cuidado para não acertar o próprio pé. Ou bateria no ex-presidente apenas por esporte, para treinar a pontaria? Não é com essa estratégia que irá conquistar os votos dos bolsonaristas. Parece que estou vendo Zema "mudando de ideia" e recorrendo ao velho discurso dos políticos que afirmaram não ser candidatos: "Eu não tinha intenção, mas como as bases insistiram, aceito como um soldado que precisa cumprir sua missão". "Çei". Siga pelo Instagram: @polito
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