O risco de colapso em uma das 35 minas de responsabilidade da Braskem vem sendo monitorado pela Defesa Civil de Maceió e foi detectado devido ao avanço no afundamento do solo. Ontem (3), houve uma diminuição no ritmo, que passou para 0,3 centímetro (cm) por hora. Pela manhã, esse número era de 0,7 cm. Nas últimas 24 horas, o afundamento foi de 7,4 cm. Desde terça-feira (28), a mina 18 acumula 1,69 metro de afundamento.
Nesta segunda-feira, novo boletim da Defesa Civil informa que o deslocamento vertical acumulado da mina 18 é de 1,77 m, e a velocidade vertical reduziu-se para 0,25 cm por hora, apresentando um movimento de 6 cm nas últimas 24 horas.O coordenador da Defesa Civil de Maceió, Abelardo Nobre, em entrevista à Agência Brasil, destacou que as áreas que podem ser mais afetadas já foram evacuadas, e que o órgão trabalha com um cenário mais brando, de afundamento lento e sem ruptura total, e um cenário de ruptura, com possibilidade de formar uma cratera. A Defesa Civil descarta a possibilidade de que a água nas minas esteja "vazando" para a Lagoa do Mundaú.
Nobre lembrou que esse é um cenário inédito no país, mas que a Defesa Civil teve tempo para se preparar e conta com o auxílio de técnicos da Defesa Civil Nacional. Ele evitou ainda falar sobre a responsabilidade da Braskem na tragédia.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
Agência Brasil: Como foi a atuação da Defesa Civil de Maceió quando foi detectada a movimentação de terra na mina de número 18 da Braskem na semana passada?
Agência Brasil: Qual é o plano de contingência? O que já foi cumprido e o que mais está previsto pela Defesa Civil?
O Exército Brasileiro já ficou de prontidão para a necessidade de qualquer intervenção. Tivemos também a Defesa Civil Nacional, que veio com seus técnicos. Dois técnicos estão aqui dentro da Defesa Civil do município dando apoio necessário e encurtando a distância entre Brasília e a Defesa Civil municipal para captação de recursos e ajuda técnica.
As próprias secretarias do município como, por exemplo, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, com papel de montar os abrigos, deixar os abrigos prontos para caso haja necessidade de deslocamento, de realocação, de abrigamento de moradores. Que esses abrigos já estejam prontos para receber a população. A Secretaria de Saúde disponibilizou mais veículos para a Defesa Civil e montou um plantão especial de profissionais nesses abrigos. Tudo isso faz parte desse plano, para a devida a resposta ao fenômeno.
Agência Brasil: Quais os cenários para esse fenômeno?
Mas há um outro cenário que pode ser o resultado desses indicadores que nós estamos analisando. Os inúmeros microssismos que aconteceram nos últimos dias, da velocidade de afundamento, ou seja, de deslocamento do solo, dentro do solo. Chegou num momento que o deslocamento era de 5 cm por hora.
Para você ter uma ideia, para normalidade, que já não é normal, vamos dizer assim, a gente mede a velocidade [de deslocamento do solo], a gente detecta a velocidade em milímetros por ano, milímetros por ano! Nós chegamos a medir 5 cm por hora. Então era uma velocidade bastante considerável.
Neste momento, nós estamos a 0,30 cm por hora, então baixou bastante. Só que ainda é uma velocidade considerável para esse tipo de fenômeno, então a gente continua em alerta máximo.
É bom lembrar que a área que pode ser mais afetada, ter algum dano na superfície, já foi totalmente evacuada, você não tem mais moradores e trabalhadores. E é um fenômeno que nunca aconteceu no Brasil. É único e a gente se preparou durante um certo tempo, tinha os equipamentos necessários para que neste momento a gente pudesse realmente tranquilizar a população e dar resposta necessária para salvaguardar as vidas.
Agência Brasil: No boletim deste domingo à noite, houve uma redução de pelo menos metade do ritmo do desabamento do solo. Houve ainda ocupação pela água da Lagoa de Mundaú na Mina 18? Como vocês estão avaliando essa situação?
O que a gente observa até o presente momento é que esse movimento que a cavidade fez foi muito rápido. A gente tinha até o início do mês microssismos que estão ali na casa dos 700 metros de profundidade e, quando foi agora no dia 28, já estava em 300 metros. Foi algo muito forte que aconteceu e acaba gerando todo esse movimento.
A gente tem essas duas possibilidades [de ocorrerem com a Mina 18]: ou ela se acomoda, provocando esse afundamento. De qualquer forma, você já tem um impacto ambiental porque uma parte da água já entrou ali numa área que era emersa.
Ou há o rompimento abrupto causando um outro cenário que seja justamente o de a água da lagoa poder entrar nessa cavidade gerando um impacto bem significativo.
Agência Brasil: Foram visualizadas rachaduras na superfície da Mina 18?
Agência Brasil: Houve manifestações nesta semana de comunidades, como dos Flexais, pedindo para serem incluídas na área de risco, para serem alocadas, e uma crítica em relação à Defesa Civil de Maceió em relação a isso. Outras comunidades, como do Bom Parto e da Marquês de Abrantes, também fazem esse pedido. Por que elas não foram incluídas nesse Mapa de Risco que já foi atualizado?
No caso do Flexal, a Defesa Civil fez um trabalho em 2021, mostrando que ela passa por um processo de ilhamento socioeconômico, a própria força-tarefa aceitou essa nossa tese, levou à frente, e foi feito um novo acordo. É claro, sem realocar os moradores, que a gente sabe que é um pleito dos moradores. Mas, até o presente momento, naquela área, a gente não encontrou nenhum indício, nenhum dado, nenhuma informação técnica de que haja uma movimentação do solo, uma deformação do solo, causado pela presença das cavidades.
Esse mapa de linhas prioritárias, ele tem que levar a critério, de forma bastante rigorosa, para depois não serem contestados esses dados dos equipamentos, dos aparelhos, do satélite, para que realmente não haja dúvidas com essa correlação do que acontece naquela região e o processo de subsidência causado pela mineração. Para que depois a gente não abra um precedente para qualquer pessoa, em qualquer local de Maceió, pedir realocação. Até porque várias vezes, eu já falei em outros momentos, em que há localidades dentro de Maceió e que foram colocadas para essa realocação facultativa, em que já se estabilizaram, não há hoje mais movimento.
Agora, é claro, você tem as especulações de diversas pessoas, que muitas vezes têm um conhecimento técnico, mas não têm as informações que nós temos aqui, não têm os dados. Então criam teorias, criam um terror nas pessoas enorme, que, ao invés de ajudar, só piora. É claro que a gente tem uma preocupação especial com as pessoas da área do Flexal, porque as pessoas realmente estão isoladas e ilhadas. Há todo esse projeto de revitalização do bairro e que aí também sofre com um processo político-partidário muito importante naquela região que atrapalha esse benefício de chegar até a população.
Mas a gente já tem ali, na Marquês de Abrantes, uma parte em que identificamos movimentação do solo, identificamos a direção, identificamos uma consistência, que além de consistência também uma persistência desses sinais. Então se justificou colocar ela como uma área de monitoramento e aí vai agora para realocação.
Agência Brasil: Neste momento, tem outras famílias ou imóveis comerciais realocados? Ou foram apenas as famílias do bairro do Pinheiro por determinação judicial?
Mas aí o que acontece? Quando as nossas equipes saíram daqui e foram para essas duas localidades, do Bom Parto e Flexal, houve uma distorção da ação da Defesa Civil. As pessoas pensavam que a gente estava indo lá para tirar as pessoas à força, para realocar as pessoas, e não era nada disso. Por mais que o pessoal explicasse e tal. Porque elas não estavam informadas de forma correta. São 23 pessoas acolhidas, abrigadas, nesse abrigo voluntário e preventivo. Mas nenhuma foi retirada à força, foi alocada, porque neste momento são áreas em que não há risco.
Agência Brasil: Mas, então, além dessas 23 pessoas do Pinheiros que têm a decisão judicial, não houve mais nenhum realocamento permanente?
Agência Brasil: Mas houve a informação neste domingo que a Igreja Batista do Pinheiro informou que seria o último dia de culto, que eles também teriam que ser realocados.
Agência Brasil: Mas por que eles não foram retirados antes? Estão sendo só agora? Tem uma parte que ainda está sendo retirada?
Agência Brasil: Pesquisadores, principalmente da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), publicaram uma carta reclamando da falta de divulgação dos dados do Mapa de Risco, da necessidade de uma análise independente. Como vocês veem essa crítica da academia?
Agora é claro, num momento desse em que a gente está trabalhando 24 horas num plano de contingência, numa preparação para o tipo de desastre que a gente está enfrentando, fica difícil a gente dar uma resposta a uma crítica de quem está reclamando porque não tem um mapa detalhado de uma situação que neste momento não impõe risco.
Agência Brasil: Qual é o papel da Braskem nesse plano de contingência?
Agência Brasil: E sobre a situação dos pescadores e marisqueiros que viviam da Lagoa do Mandaú, além do risco aos manguezais. A Defesa Civil também é responsável por apoiar essa questão ambiental?
Agencia Brasil