Há sete grupos de congado, sendo um deles principal o moçambique (ou maçambique), e eles se diferenciam pelas vestimentas que seus integrantes usam e outros elementos, como o tipo de música que entoam, ligado ao candombe. O maçambique, por exemplo, canta algo que soa como um lamento. Os grupos são chamados de terno, guarda ou corte, denominação que varia conforme a região.
Para sair às ruas, os grupos de maçambique usam branco. E algumas guardas escolhem colocar turbantes e saiotes. Outras, que, em geral, tocam músicas mais rápidas, vestem peças de roupa mais coloridas. Até mesmo o penacho tem seu lugar, às vezes, remetendo aos povos indígenas. "Todas têm sua importância, sua ritualística", pontua Machado, que deve exibir, no mês que vem, um documentário sobre o congado, viabilizado pela Lei Paulo Gustavo, de incentivo à cultura.
Em relação às figuras e respectivas funções dentro de cada um dos grupos, o vilão apenas dança, não canta, e tem o papel de ir abrindo caminhos. Acompanham-no o capitão, com seu bastão, os bandeireiros, que, geralmente, são uma dupla de dançadores, e os caixeiros.
No grupo Moçambique, existem o rei e a rainha, que são coroados e têm título vitalício - Leonardo Henrique MachadoNo maçambique, existem também o rei e a rainha. "Pode ser a pessoa mais simples da comunidade, mas, naquele dia, ele é rei. Quando a pessoa é coroada, é rei pelo resto da vida, é um título vitalício", explica Machado.
Entre os instrumentos, estão a sanfona, o reco-reco, o tamborim, a caixa e o cavaquinho. Alguns deles são feitos com base no improviso, como latinhas contendo pedras, grãos ou contas, que acabam virando chocalhos e remetem aos instrumentos que eram amarrados nos negros escravizados para que não conseguissem fugir em silêncio e se libertar.
O patangome é outro instrumento que revela a criatividade dos grupos de congado. Ele é como se fosse um chocalho de mão, feito por duas calotas de carro, geralmente de kombi.
"O congado é uma festa de almas, das almas dos negros que sofreram durante o período da escravidão. E quem rege essa festa, quem é a dona dela? Nossa Senhora do Rosário, que teve que surgir do universo branco, católico, para o senhor dos escravos perceber o sofrimento do negro. Antropologicamente, a festa gira em torno disso", esclarece Machado.
Para o antropólogo mineiro, o congado consiste em um modo de vida. "Geralmente, o congadeiro é nascido e criado no congado."
"É uma coisa séria. Você está lidando com o sagrado, está manipulando energias. Você tem os guias de cada grupo. Tem toda essa questão de respeito. Antigamente, quando passava um grupo de congado, você não passava na frente do grupo, porque se entendia que não se atravessa o caminho do santo", acrescenta o pesquisador.
Preconceito
Machado afirma que, ainda na atualidade, o que mais distancia o congado das pessoas que o criticam é o preconceito. "Até mesmo partindo do próprio católico", acrescenta.
A falta de verbas públicas para que as guardas mantenham suas atividades, que dependem das festas entre elas, é outro ponto que dificulta sua longevidade. "No congado, um precisa ir à festa do outro, e vice-versa. Isso é uma moeda de troca. A festa do grande só é grande porque o pequeno vai lá fazer a festa do grande."
Segundo o antropólogo, cada festa é feita em uma data, para garantir essa dinâmica. "Então, se a prefeitura não ajudar com transporte para um grupo viajar a outra cidade, a outra cidade também não vai vir, e a festa vai ser pequena. Tem esse problema. Ou não [o poder público] não ajuda com os instrumentos, com um apoio para fazer a festa", finaliza.
Agencia Brasil