A CPI das Apostas foi instalada na última quarta-feira, 17, e terá como objetivo investigar as denúncias de manipulação de jogos de futebol no Brasil, tendo como base a Operação Penalidade Máxima, deflagrada pelo Ministério Público de Goiás. Em entrevista exclusiva ao site da Jovem Pan, o deputado federal Eduardo Bandeira de Mello (PSB-RJ), ex-presidente do Flamengo, afirmou que espera ver a comissão ampliando apuração e estimulando novas denúncias de fraudes para lucro com apostas esportivas. Em entrevista exclusiva, o parlamentar ressaltou que a CPI pode dar mais visibilidade ao escândalo. “A mídia cobrindo e o assunto aparecendo, podemos ter mais denúncias. Alguém pode se sentir estimulado a relatar algum caso que tenha acontecido agora ou no passado. A CPI não vai se restringir ao Ministério Público de Goiás. Pode aparecer alguma coisa que esteja acontecendo no Brasil inteiro. A CPI pode levantar isso e vai agir em colaboração e harmonia com a Polícia Federal e com o MP”, declarou o parlamentar, que será suplente.
No escândalo que afetou partidas da Série A e B do Campeonato Brasileiro, alguns jogadores foram aliciados por uma quadrilha para cometer alguns atos durante os jogos, como ceder escanteios e levar cartões – 15 atletas já foram denunciados pelo MP. Ex-presidente do Flamengo, Bandeira de Mello afirmou que os clubes precisam adotar medidas educativas para evitar o assédio aos jogadores. “O garoto vem da categoria de base muito jovem, vem de família humilde. Aquilo é a grande chance de ele ter uma vida melhor, de dar condições para a família dele. De repente, um deslize pode fazer com que tudo vá por água abaixo. Pode fazer com ele seja eliminado do futebol e jogar fora tudo que ele batalhou. Essa parte de educação, de alertar o atleta para o risco. Além disso, monitorar e ficar de olho no movimento de quem procura os atletas. É preciso assegurar que não estão sofrendo esse tipo de assédio”, analisou.
Bandeira de Mello ainda ressaltou que a CPI das Apostas poderá auxiliar na Medida Provisória que visa regulamentar os sites de apostas esportivas no Brasil. O texto, redigido pelo Ministério da Fazenda, já foi apresentado para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e também passará pela Câmara dos Deputados. “Tudo que aparece relativo ao escândalo pode ser usado por quem está elaborando a legislação para salvaguardar a lisura das competições e da atividade de apostas. Nesse sentido, acho positivo”. Abaixo, veja outros trechos da entrevista do deputado à JP.
A CPI das Apostas é a que mais tem caráter de mobilização social entre as instaladas? É possível. Não tinha pensado nisso, mas é, sim. O futebol é um assunto que todo mundo gosta e acompanha. Isso aumenta nossa responsabilidade, até porque o futebol está no dia a dia de todos. É preciso levar a sério e dar bons exemplos.
A CPI das Apostas é a menos polarizada entre as que estão em discussão? Acredito que sim. Não é um assunto ideológico. Não acredito que ninguém seja a favor da manipulação de resultados. Se for, não vai contar para ninguém.
Como a CPI pode colaborar com a investigação do Ministério Público? Pode dar mais visibilidade, porque a CPI é sempre um assunto candente, que a mídia cobre. A mídia cobrindo e o assunto aparecendo, podemos ter mais denúncias. Alguém pode se sentir estimulado a relatar algum caso que tenha acontecido agora ou no passado. A CPI não vai se restringir ao Ministério Público de Goiás. Pode aparecer alguma coisa que esteja acontecendo no Brasil inteiro. A CPI pode levantar isso e vai agir em colaboração e harmonia com a Polícia Federal e com o MP.
Como evitar que esta CPI termine em pizza? Pois é. Se tem essa fama, algum motivo deve ter. Cabe a nós trabalhar para que isso não se confirme. Esta é a minha primeira CPI. Claro que sou apenas um membro, mas todos nós temos que nos esforçar para não ter um resultado negativo. Afinal de contas, estamos sendo pagos para isso.
Quanto à Medida Provisória já apresentada pelo governo para regulamentar o setor de apostas, a CPI pode aperfeiçoar o projeto? É até uma coincidência. A MP das Apostas já estava sendo elaborada quando surgiu o escândalo. Tudo que aparece relativo ao escândalo pode ser usado por quem está elaborando a legislação para salvaguardar a lisura das competições e da atividade de apostas. Nesse sentido, acho positivo. Depois, será apreciada pelo Congresso, que é o mesmo que está envolvido com a CPI. Então, vejo que pode haver uma ajuda mútua e uma colaboração.
A CPI já tem alvos? Não. Houve apenas o ato de instalação da CPI. Será marcada apenas uma reunião para semana que vem. Nela, certamente vamos discutir o planejamento e quem seriam as primeiras pessoas a serem convidadas. É melhor esperar para semana que vem. Até para eu não ficar só na especulação.
Presidente do Vila Nova será ouvido? Particularmente, acho fundamental. Ele foi a figura principal. Foi um herói deste caso. Se não fosse ele, talvez a manipulação e o crime continuassem acontecendo sem ninguém ficar sabendo.
Como ex-presidente do Flamengo, quais medidas os clubes e as federações podem tomar para evitar o assédio aos jogadores? Principalmente medidas educativas. O garoto vem da categoria de base muito jovem, vem de família humilde. Aquilo é a grande chance de ele ter uma vida melhor, de dar condições para a família dele. De repente, um deslize pode fazer com que tudo vá por água abaixo. Pode fazer com ele seja eliminado do futebol e jogar fora tudo que ele batalhou. Essa parte de educação, de alertar o atleta para o risco. Além disso, monitorar e ficar de olho no movimento de quem procura os atletas. É preciso assegurar que não estão sofrendo esse tipo de assédio.
Atletas que manipulam jogos devem ser banidos do esporte? Se está previsto na legislação, isso deve ser cumprido. Às vezes, até dá pena, porque o cara pode entrar nisso por ignorância. É um deslize, um desvio de conduta. Mas tem que saber que, qualquer coisa que aconteça nesse sentido, pode gerar o banimento. A punição precisa ser rigorosa mesmo. É fundamental que seja na parte financeira. Não apenas no caso dos esportes. Vejo que muitas vezes a punição pecuniária dói mais que a medida restritiva. O cara vai saber que pode receber uma oferta para ganhar R$ 10 mil, mas que pode pagar uma multa de R$ 500 mil.
Como funciona o Projeto de Lei que prevê aumento da punição aos envolvidos? Esse projeto eu apresentei no dia em que apareceu a denúncia. Na ocasião, nós não tínhamos nem noção da extensão do caso. É um projeto que aumenta as punições que já estão previstas hoje. Aumenta de 1/3 até 50% do tempo de reclusão no caso de atletas, árbitros, etc. Aí você teria um agravamento da pena. Mas, durante a tramitação deste projeto, ele será discutido em comissões. Pode ser até que ele seja adequado à situação que já foi apurada durante a investigação da Polícia Federal, do MP e da CPI.
jovem pan