De acordo com projeção recente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção nacional de alimentos deve crescer 15% na safra 2022/23 em relação ao período anterior. Com isso, devemos chegar à marca de 312,4 milhões de toneladas, 40,8 milhões a mais que o volume total alcançado em 2021/22. Esses números indicam que devemos nos empenhar em promover uma agricultura sustentável, capaz de alimentar o mundo sem comprometer a saúde humana e animal, além do meio ambiente. Cada vez mais, faz-se necessário investir em métodos de cultivo que utilizem recursos sustentáveis, que representam menos riscos e asseguram produtividade às lavouras.
Em todo o mundo, as pesquisas relacionadas à agricultura se voltam para soluções sustentáveis que atendam à crescente demanda por alimentos. Estimativas da FAO, agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para alimentação e agricultura indicam que até 2050, a população mundial deve chegar a 9 bilhões de pessoas e os governos de países em desenvolvimento precisam passar a investir anualmente US$ 44 bilhões para alimentar a todos. De acordo com o Quadro Estratégico da FAO para 2022-2031, é necessário buscar sistemas agroalimentares cada vez mais eficientes, seguros e sustentáveis.
Nesse cenário, tem crescido o uso de bioinsumos para controle de pragas, melhor aproveitamento de nutrientes e saúde de plantas. Segundo o estudo FarmTrak, divulgado no início de 2023 pela consultoria Kynetec, esse mercado movimentou R$ 2,095 na safra 2021/2022, 67% a mais que no ciclo anterior, e já representa 4% do total de transações do setor de proteção de plantas. O montante negociado no setor de proteção de plantas subiu de R$ 58,384 bilhões (2020-21) para R$ 78,247 bilhões, alta de 33%. Outro dado importante, ainda de acordo com o levantamento, é que a utilização dos insumos biológicos já cobre 28% da área nacional plantada de soja, 52% da cana-de-açúcar, 26% do milho safrinha, 17% do milho verão e 64% do plantio de algodão.
O avanço na utilização dos bioinsumos, ou biosoluções agrícolas, se deve ao grande investimento em P&D para o desenvolvimento de produtos biológicos que são tão eficientes, e muitas vezes superiores, aos produtos químicos. O resultado positivo e retorno econômico com a utilização dos biológicos é o grande "driver" de aumento de adoção, seguido pelo baixo risco social e ambiental em sua operação. Há poucos anos, não se imaginaria que em 2022 os principais defensivos utilizados no controle de nematoides seriam os produtos biológicos. Segundo estudo elaborado pela Kynetec em 2022, a venda de bionematicidas ocupou 75% do faturamento do setor, contra 25% da participação dos produtos químicos.
Assim como aconteceu com o mercado de nematicidas no Brasil, a indústria ainda projeta pelo menos três grandes ondas de avanço das biosoluções. Isso acontecerá com a entrada dos bioherbicidas, biofungicidas para ferrugem-asiática, bioinseticidas para controle de percevejos. Ainda se necessita de muita pesquisa e desenvolvimento dentro dessas três ondas de avanço, tanto para a validação dos produtos em campo, quanto para produção em larga escala de alguns produtos, como é o caso do controle de Percevejo-marrom com Telenomus podisi.
Visto isso, nota-se que o Brasil, principalmente por sua importância mundial no agronegócio, deve apostar cada vez mais no uso dos insumos biológicos e liderar um movimento por uma agricultura sustentável, capaz de alimentar a população de forma segura e saudável. Precisamos inovar e mostrar ao mundo nossa capacidade de utilizar a ciência e a tecnologia em favor do campo. Ainda há muitos desafios a serem superados, mas sabemos que é possível ir além.
*Eduardo Ivan é gerente de produtos biológicos na BRANDT do Brasil.
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