Em entrevista à TV Brasil, o arquiteto e urbanista e ex-secretário de cultura de São Paulo Nabil Bonduki criticou as mudanças feitas no evento, com a retirada das atrações do centro da capital. "Em primeiro lugar, é importante resgatar a origem da Virada. Ela foi muito importante porque ela significou, para muitas pessoas, um retorno ao centro, um reconhecimento da área central. Acho que a Virada teve um papel muito importante na recuperação do espaço público e na relação entre cultura e espaço público, para além de um evento", disse.
"A Virada representou um evento muito importante para a cidade de São Paulo e fez parte de um processo de recuperação do espaço público da cidade. Isso não quer dizer que a descentralização não era uma questão importante. E ela foi feita. Durante alguns anos, tivemos uma convivência entre a Virada no centro e eventos, no mesmo dia, em áreas periféricas", explicou Bonduki, lembrando que, como secretário, participou do planejamento do evento nas edições de 2015 e 2016.
Das mais de 1,2 mil atrações que ocorreram em 2019 e seus 35 palcos (sendo 27 deles só na região central), a Virada deste ano passará a ter 500 atrações e 12 palcos. Além disso, a prefeitura decidiu manter apenas o palco do Anhangabaú em funcionamento por 24 horas, ao contrário do que ocorria nas demais edições, quando toda a programação era prevista para ocorrer das 18h de sábado às 18h de domingo.
"O que me parece é que o confinamento da Virada Cultural no Anhangabaú é uma enorme perda para a cidade, por vários aspectos. Em primeiro lugar, por ser um espaço confinado, cercado, perdendo o caráter de um grande conjunto de eventos, que obrigavam as pessoas a circularem pelo espaço público e ocupar todo o centro. E, por outro lado, ela também está expressando esse momento de decadência da área central", destacou Bonduki. "Acho importante termos esses eventos nas áreas periféricas, mas isso não deveria excluir a área central, que é muito importante em São Paulo e não poderia ficar abandonada", acrescentou.
Para Bonduki, colocar o palco somente no Vale do Anhangabaú, na região central, também reflete um outro grave problema, já que esse espaço foi concedido à iniciativa privada. "Há uma situação muito grave, do ponto de vista da privatização ou segregação do espaço público, que é o que acontece no Anhangabaú. A Virada vai ser pública, gratuita e aberta, mas, nesse momento, o Anhangabaú é agora um espaço cercado. Ele deixou de ser um espaço aberto para a cidade. E isso é ruim para uma cidade onde se espera que ela seja para todos, aberta e em que as pessoas possam circular livremente. Me dá uma tristeza passar pelo Anhangabaú e você ter, sempre que há eventos por ali, tapumes isolando o Viaduto do Chá", destacou o urbanista.
Também em entrevista à TV Brasil, a secretária municipal da Cultura, Aline Torres, encarou as críticas ao evento como algo natural.
"A Virada Cultural agora está completando 18 anos e 18 anos no centro. Mas agora a sociedade tem outro formato e um outro desejo e a gente precisa fazer política pública onde as pessoas estão precisando do serviço público. Então, [vamos] levar a Virada Cultural do Pertencimento para Itaquera, Grajaú e Parelheiros, que são regiões onde temos índices muito negativos. E [vamos] fazer com que a cultura seja, de fato, um potencial transformador de sociedade regional. Entendemos que as críticas são super rasas e a gente segue tocando esse barco", disse.
Mais informações sobre o evento podem ser obtidas no site da Virada Cultural.
Agencia Brasil