Quero aproveitar o "Memória da Pan" para reverenciar um dos grandes nomes da história do futebol brasileiro: Waldir Pereira ou, simplesmente, Didi. O craque, que marcou época no Fluminense, no Botafogo e na seleção brasileira, nasceu em 8 de outubro de 1928, em Campo dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. Ele foi um dos maiores médios volantes de todos os tempos. A visão que o "Príncipe Etíope" tinha a partir do meio de campo era única. Além do chute traiçoeiro, batizado de "folha seca", Didi distribuía a bola como ninguém, além de ser um líder nato.
Ainda novato, o craque foi o autor do primeiro gol da história do Maracanã no ano de 1950, em uma partida disputada entre as seleções do Rio de Janeiro e de São Paulo. Didi disputou a Copa de 1954, na Suíça, mas a Hungria eliminou a equipe nacional nas quartas de final. A redenção veio na Suécia, em 1958, quando foi considerado o melhor jogador do Mundial. Contra a França, na semifinal, em Estocolmo, a partida estava empatada por 1 a 1, quando o genial jogador marcou um golaço, em um chute de fora da área.
O lance foi descrito assim pela revista Manchete: "Sua trajetória descreve meia parábola, iludindo completamente os goleiros menos desavisados". Outra publicação, O Cruzeiro, citou que o chute, traiçoeiro, deixou o goleiro Abbes, da França, atordoado: "A bola, branca, descreveu uma trajetória zarolha, serpenteada e, em zigue zague, foi entrar no ângulo esquerdo da trave, como um raio. O lance do gol se completou com uma cena cômica em que o goleiro Abbes, por obra do chute inédito, foi parar do lado de fora da rede, encolhido, assustado, irremediavelmente vencido". O Brasil goleou por 5 a 2 e se classificou para a decisão.
Na final da Copa, diante dos suecos, donos da casa, em 29 de junho de 1958, Didi foi fundamental para acalmar a seleção que, pela primeira vez no Mundial, saiu em desvantagem no placar. Coube a ele, pegar a bola e se encaminhar ao círculo central para a nova saída de jogo. Era uma forma de tranquilizar os companheiros: "Senti que o nosso time esfriou e que o sangue parou de correr. Eu estava dando tempo ao tempo." O andar lento do jogador também era uma forma de esperar passar a euforia da torcida local.
Em artigo na revista O Cruzeiro, o jornalista Armando Nogueira recordou aquele momento da mais pura agonia para a equipe nacional: "Didi pegou a bola depois do um a zero. A Europa achava que os brasileiros não tinham condições psicológicas de enfrentar a desvantagem no placar". Para o cineasta Luiz Carlos Barreto, Didi fez uma mise-en-scène. Depois daquela imagem emblemática, a seleção virou o placar e massacrou a Suécia no segundo tempo, graças à genialidade de Pelé e de Garrincha: 5 a 2. Didi ainda foi bicampeão mundial com a equipe brasileira, em 1962, no Chile, e entrou de vez para a galeria dos imortais do futebol. Além de Fluminense e Botafogo, vale citar a passagem que ele teve pelo Real Madrid, da Espanha, mas o jogador sentiu-se boicotado e desprestigiado pelas estrelas do time espanhol, como Di Stéfano, e guardou mágoas.
Depois de pendurar as chuteiras, Didi teve uma longa carreira como treinador. Na Copa de 1970, no México, ele comandava a seleção do Peru, que enfrentou a seleção brasileira nas quartas de final. Quando ouviu o hino nacional, as pernas dele tremeram, como admitiu inúmeras vezes. Waldir Pereira morreu em maio de 2001, aos 72 anos de idade. Em 2023, tive o privilégio de conhecer uma das filhas dele, Lia, em um lançamento de livro que fiz no Rio de Janeiro. Para saber mais sobre a história de Didi, ouça o áudio a seguir, com muitas gravações do acervo da Jovem Pan. Esse arquivo traz ainda a história de Gylmar dos Santos Neves, goleiro bicampeão mundial de 1958 e 1962.
Gylmar e Didi: a elegância em campo
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