Como cidadã consciente, entendo a importância de me manter informada sobre as condições climáticas para organizar minha agenda pessoal e profissional aqui em São Paulo. Além do meu conhecimento em urbanismo e planejamento ambiental, reconheço a necessidade atual de acompanhar o trabalho dos meteorologistas, que analisam o clima com base em dados de satélites, estações meteorológicas e radares. Como não tenho tempo ou paciência para acompanhar o jogo político de empurra-empurra entre o prefeito Ricardo Nunes, o governador Tarcísio de Freitas e o presidente Lula por meio da Aneel sobre questões climáticas, prefiro focar no que posso, dentro do possível, controlar.
Ao acordar, adquiri o hábito de ler os jornais. Até aí, sem novidade alguma. O problema começou quando, nos últimos meses, decidi acompanhar atentamente, inúmeros aplicativos disponibilizados em meios de comunicação da grande mídia que simulam alagamentos e inundações na rua onde moro, ilhas de calor por sobre as calçadas em que caminho, ventanias associadas a temporais que nenhum guarda-chuva é capaz de proteger e até a qualidade do ar indicando se preciso, ou não, sair com minha máscara facial de filtro de carvão para não inalar fumaça tóxica proveniente das queimadas que vem de lá da Floresta Amazônica e do Cerrado. Isto é viver em São Paulo.
Enquanto isso, representantes públicos, sem qualquer constrangimento, pedem paciência e alegam terem sido “surpreendidos”, quando é de conhecimento comum, até mesmo entre crianças no ensino fundamental, que as ações humanas são a principal causa das crises climáticas que enfrentamos. Este cenário, lentamente agravado ao longo dos anos, foi fomentado tanto por empresas quanto por gestores públicos, em diferentes níveis de governo, eleitos ou não. Considero isso, no mínimo, uma afronta à população que cumpre seu dever cívico e paga seus impostos.
Trabalho parcialmente em home office, o que faz com que eu passe mais tempo em casa. E, assim como muitos, essa realidade tornou a eficiência energética das nossas residências ainda mais importante. Prédios antigos, como o meu, precisam ser modernizados com foco na sustentabilidade, conforme previsto nos planos climáticos federais, que visam à redução das emissões de carbono no país, estados e municípios. A reabilitação energética deve ser parte de uma estratégia federal do Plano Nacional de Transição Energética criado em 2024, apresentando políticas de subsídios e incentivos para o desenvolvimento e implantação de soluções para a criação e implantação de infraestrutura de energias renováveis em estados e municípios. É preciso investir.
No caso de reabilitação energética de edifícios particulares, é preciso reforçar a ideia de que não se trata de uma simples reforma e, sim, de atualização para que ele funcione de forma mais eficiente, consuma menos energia e ofereça conforto climático aos moradores. Algumas intervenções ajudam e muito na redução do consumo e das contas de energia e já vem sendo aplicadas em inúmeras cidades europeias. Alguns exemplos: paredes e janelas com isolamento térmico adequado ajudam a manter a temperatura interna estável, evitando tanto a perda de calor no inverno quanto o acúmulo de calor no verão. Isso reduz a necessidade de usar aparelhos de ar-condicionado e aquecedores, gerando uma economia significativa de energia. A iluminação também pode ser modernizada, trocando lâmpadas antigas por LEDs, que consomem menos energia e têm maior durabilidade, além da instalação de sensores de presença para garantir que a luz só seja usada quando necessário.
A modernização dos edifícios não apenas melhora a eficiência energética, mas também contribui significativamente para a redução das emissões de carbono, ajudando a cumprir a Agenda 2030 e os compromissos climáticos do Brasil e do mundo. A geração de energia limpa, como a instalação de painéis solares, diminui a dependência da rede elétrica e reduz as contas de luz. Além disso, sistemas de ventilação natural e o reuso de água da chuva reforçam a eficiência e sustentabilidade das construções. Essas medidas proporcionam conforto e economia para os moradores, além de reduzir o impacto ambiental, em especial para a população residente em casas autoconstruídas, que abrigam uma grande parcela da população.
A reabilitação energética requer investimentos significativos, o que pode ser um desafio para muitos consumidores, já sobrecarregados com boletos, taxas e impostos. Para que essa transformação ocorra em larga escala, é fundamental a ação do poder público. O debate entre os entes federativos já não interessa mais ao cidadão comum. O caminho é o investimento público, com crédito subsidiado, juros baixos e prazos longos, para viabilizar essas reformas. Com incentivos adequados e financiamento acessível, a reabilitação energética se torna uma solução viável para melhorar a qualidade de vida, reduzir custos e promover um futuro mais sustentável.
Estudos recentes publicados no jornal Energy and Buildings indicam que a modernização de edifícios residenciais voltada para a eficiência energética pode reduzir a demanda de energia em até 75%, gerando uma significativa queda nas contas de luz (Palma et al., 2023). Essa economia aumenta o poder de compra das famílias, o que, por sua vez, estimula a economia e contribui diretamente para o crescimento do PIB e a melhoria da qualidade de vida. Os custos iniciais das adaptações energéticas podem ser um entrave, especialmente para famílias de baixa renda. Nesse cenário, programas de crédito subsidiado podem oferecer financiamento com juros baixos, tornando essas melhorias mais acessíveis e inclusivas. Além disso, os benefícios de longo prazo, como a redução da pegada de carbono e o aumento da segurança energética, justificam plenamente o investimento, proporcionando vantagens tanto econômicas quanto ambientais.
Um exemplo de como o investimento público pode impulsionar a transformação energética vem de Cartagena, na Espanha. Em outubro de 2024, a prefeitura lançou um programa de subsídios para a reabilitação energética de 272 moradias em 15 bairros da cidade. Com um orçamento de 2,5 milhões de euros, o projeto visa aumentar a eficiência energética em áreas urbanas envelhecidas e vulneráveis, oferecendo subsídios que cobrem entre 30% e 60% do custo das obras, podendo chegar a 100% para famílias em situação de vulnerabilidade econômica (Boletín Oficial de la Región de Murcia, 2024). Além de gerar empregos nos setores de construção e tecnologia energética, a ação melhora as condições de vida da população, contando com o apoio técnico do Centro Tecnológico de Energia e Meio Ambiente (Cetenma), que facilita o acesso aos subsídios.
Além dos benefícios econômicos, a reabilitação energética oferece importantes ganhos sociais, contribuindo para a saúde pública ao garantir temperaturas internas adequadas, o que ajuda a combater problemas como a pobreza energética e a exposição ao frio e à umidade. Situação essa relevante para as populações vulneráveis, que frequentemente vivem em condições precárias e enfrentam dificuldades financeiras para aderir a programas de reforma.
A questão da segurança energética também merece atenção. Quanto mais eficientes forem as moradias, menor será a demanda por energia elétrica, o que alivia a pressão sobre a rede de distribuição, especialmente em momentos de alta demanda ou durante eventos climáticos extremos, que têm se tornado mais frequentes. Isso fortalece a infraestrutura energética do país e aumenta sua capacidade de enfrentar essas variações sem grandes impactos.
Além de reduzir as emissões de carbono e promover a sustentabilidade, essa modernização traz benefícios econômicos e sociais, especialmente para as populações vulneráveis. Para que essa transformação seja viável em larga escala, é necessário investir em programas de crédito subsidiado, com juros acessíveis, incluindo todos os perfis socioeconômicos, por meio de uma atuação coordenada entre governos, sociedade e instituições, em busca de um futuro mais sustentável e resiliente.
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