Após uma vitória tão substancial no colégio eleitoral e no voto popular, Donald Trump começa aos poucos a anunciar os nomes de importantes secretários, embaixadores e ministros que irão compor seu governo. Em muitas nações do mundo tais escolhas passam de maneira despercebida, mas se tratando da maior potência econômica e militar de nosso planeta, todas as escolhas tomadas por Trump podem reverberar de maneira impactante por diversos países. Considerando o papel tão fundamental que os Estados Unidos têm tido na guerra da Ucrânia e nas guerras recentes no Oriente Médio, assim como a relação ambígua que levam com a China durante a última década, o cargo mais importante dentre as dezenas de posições, é a de Secretário de Estado, o chefe das relações exteriores.
Há dentro do partido republicano duas vertentes bastante claras de políticos divididos por sua postura na política externa norte-americana. Há os isolacionistas, que defendem uma posição mínima dos Estados Unidos em grandes assuntos globais, priorizando as pautas internas, e há os costumeiramente chamados de intervencionistas, que acreditam que os Estados Unidos devam estar presentes em diversas regiões do mundo com a sua superioridade militar e econômica para fazer valer seus interesses através dos mais variados métodos.
Durante o último governo republicano, que também foi o primeiro mandato de Donald Trump, a postura norte-americana através do Secretário de Estado Mike Pompeo seguiu mais a vertente isolacionista, fazendo valer o slogan de campanha America first, "América primeiro". Apesar de terem atuado militarmente no Oriente Médio para matar o líder da guarda revolucionária iraniana, Qassem Soleimani em 2020, em nenhuma outra ocasião vimos uma presença notável dos Estados Unidos em assuntos externos durante aquele período.
Hoje o mundo vive dias muito mais sombrios e sangrentos do que entre 2016 a 2020, onde duas guerras de grandes proporções acontecem, e onde uma ausência completa dos norte-americanos talvez não seja possível. Hoje, importantes publicações do país como o The Washington Post, cravaram o nome do senador pela Flórida, Marco Rubio, como o próximo Secretário de Estado dos Estados Unidos. Senador desde 2011 pelo seu estado natal, Rubio cresceu muito politicamente durante a última década, sendo até mesmo candidato nas primárias republicanas em 2016, competindo contra Donald Trump.
Apesar de trocas de farpas e claras desavenças na campanha política, após a eleição de Trump, Marco Rubio se tornou rapidamente um de seus principais apoiadores e defensores em momentos difíceis, sendo líder da base fiel do eleitorado da Flórida para os republicanos, sobretudo entre os hispânicos e latinos. Marco Rubio é filho de imigrantes cubanos, que chegaram aos Estados Unidos antes da Revolução Cubana de 1959, mas que conseguiram ao seu modo alcançar o "sonho americano", prosperar e não apenas formar seu filho em uma universidade, mas torná-lo senador da república.
Por ter nascido e crescido na Flórida, ao lado de milhares de outros cubanos, venezuelanos e nicaraguenses, Rubio, entende que para esse eleitorado uma política mais incisiva dos Estados Unidos na América Latina, principalmente em relação às ditaduras de esquerda, seria fundamental. Ao longo de seus quase 14 anos no senado em Washington DC, Rubio esteve sempre nas alas mais conservadoras, até mesmo chamadas de ultraconservadoras do partido republicano, tendo sido uma das maiores vozes de oposição durante os governos de Barack Obama e Joe Biden.
Após ter sido cotado para ser companheiro de chapa de Donald Trump como vice, acabou tendo se nome colocado de lado inicialmente, mas com a promissora promessa de ser parte fundamental de um novo governo. Ao que tudo indica, a escolha de Trump não seria apenas uma forma de retribuir a lealdade de Rubio durante seu primeiro mandato e enquanto respondia processos judiciais em vários estados, mas também passar uma mensagem simbólica interna e externamente.
Internamente o objetivo é cristalizar cada vez mais o voto hispânico e latino no partido republicano, mostrando que em seu governo, um filho de imigrantes cubanos também pode ocupar um dos mais altos cargos da república. Considerando que hoje quase 18% da população estado-unidense é hispânica ou latina, tal escolha seria muito representativa para milhões de pessoas e também deixaria grande parte do partido democrata em grande estado de preocupação por ver gradativamente o eleitorado latino votando cada vez mais em vermelho e cada vez menos em azul.
Externamente, as posturas de Marco Rubio que transitam desde o isolacionismo até o intervencionismo, casam-se muito bem com o momento atual dos Estados unidos e do mundo e poderia deixar bem claro aos inimigos dos norte-americanos, principalmente ao Irã e à Coreia do Norte, que a postura passiva dos últimos quatro anos mudaria rapidamente.
Por sua ascendência latina, todavia, uma região que não seria mais vista como mera coadjuvante, seria a América Latina, onde a presença dos Estados Unidos durante os últimos 30 anos tem sido bem restrita e pontual. A Secretaria de Estado nas mãos de Rubio significaria uma postura completamente renovada nas relações bilaterais e multilaterais por todas as Américas, colocando grande pressão aos governos ditatoriais da região e aos seus aliados de momento. Nesse cenário a pressão sob os ombros do governo Lula seria enorme e decisões importantes teriam de ser tomadas de maneira definitiva em relação a Cuba, Venezuela e Nicarágua. Enquanto essa nomeação não é confirmada, resta aos diplomatas em Brasília e Caracas, em Buenos Aires e Bogotá, colocarem todas as cartas na mesa.
jovem pan