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Um difícil teste para a jovem democracia sul-coreana

Quando ouvimos falar da Coreia do Sul, a dicotomia com a Coreia do Norte vem automaticamente em nossas mentes.


Quando ouvimos falar da Coreia do Sul, a dicotomia com a Coreia do Norte vem automaticamente em nossas mentes. Um mesmo povo, uma península de história e língua iguais, mas separada pelas ideologias da Guerra Fria. Apesar de um governo capitalista, a Coreia do Sul não nasceu como uma democracia liberal e por muitas décadas amargou ditaduras civis e militares que assassinaram jovens e encarceraram inocentes. A associação de Coreia do Sul com a democracia é uma noção bem recente do aspecto histórico, já que o país teve sua primeira eleição geral com sufrágio universal e um pleito limpo, apenas em 1988.

De 1948 até 1960 Syngman Rhee governou o país, durante a Guerra da Coreia até a Revolução de Abril em 1960 que forçou sua renúncia. Em 1961 o general Park Chung-hee deu um golpe de estado instaurando uma ditadura militar com fortes restrições às liberdades civis até o ano de 1979. Por fim, no mesmo ano o também general Chun Doo-wan liderou mais um golpe militar consolidando o poder político nas mãos das forças armadas e reprimindo fortemente movimentos democráticos, tal como o levante popular em 18 de maio de 1980 em Gwangju, que terminou em um massacre com centenas de mortos.

Apenas após forte pressão popular e negociação com os militares, a Coreia do Sul conseguiu a garantia de eleições democráticas no final da década e uma nova constituição. De fato, a democratização do país foi bem-sucedida com o limite de um mandato de cinco anos por presidente e uma transição pacífica e harmoniosa de poder entre diferentes partidos.

A instauração de uma democracia liberal também constituiu um legislativo poderoso e um judiciário independente, paralelamente ao poder executivo. O multipartidarismo se desenvolveu em um sistema que até se assemelha à outras democracias pelo mundo, onde dois partidos, um mais conservador e outro mais liberal, ganharam o protagonismo da política nacional e se alternaram algumas vezes na presidência sul-coreana. O Partido do Poder Popular, mais conservador e mais pró-Estados Unidos é a legenda do atual presidente, enquanto o Partido Democrático da Coreia, centrista e que busca melhores relações com os inimigos norte-coreanos, controla o legislativo.

O presidente Yoon Suk Yeol decretou lei marcial no país, argumentando que forças representando interesses norte-coreanos estariam infiltradas no parlamento e minando o estado democrático do país. A medida suspenderia todas as atividades políticas, dentro e fora do legislativo, proibiria manifestações populares e colocaria o exército nas ruas. Logo após o decreto, cidadãos comuns e políticos tomaram as ruas de Seul, gritos contra o presidente foram entoados e uma rápida votação pelos deputados barraram o decreto presidencial. A desescalada por parte do legislativo foi essencial para que horas mais tarde Yoon decidisse retirar seu decreto, invalidando a lei marcial.

Já nas primeiras horas da manhã do dia seguinte, em um país extremamente abalado pelos acontecimentos do dia anterior, a oposição pede o impeachment do presidente, caso ele não escolha a renúncia, alegando que a lei marcial foi uma tentativa de destruir a constituição democrática do país. Os motivos reais por trás de uma manobra tão radical por parte do presidente ainda são desconhecidos em sua totalidade.

A teoria mais provável aponta para uma combinação de fatores internos, como acusações de corrupção e divergências pela aprovação do orçamento, como também fatores externos, envolvendo a participação cada vez mais ativa da Coreia do Norte na Guerra da Ucrânia e as constantes ameaças do vizinho. Durante os próximos dias, novas informações virão a luz da opinião pública, mas certamente, esse 03 de dezembro de 2024 ficará lembrado no imaginário da sociedade sul-coreana como um dia que poderia ser uma reprise de um passado não tão distante.

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