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Conflito na Síria começou na Primavera Árabe, em 2011; entenda

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Avanço tomou novo impulso nos últimos dias com ofensiva surpresa e tomada de cidades importantes, como a capital Damasco neste domingo. O ditador Bashar al-Assad deixou o país em direção a um destino desconhecido, segundo fontes do Exército. Regime de Assad enfrentou dificuldades para frear ofensiva de rebeldes

Omar Albam/AP

O conflito na Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, mas teve novo impulso nos últimos dias depois que os insurgentes lançaram uma ofensiva de surpresa no fim de novembro. Neste domingo (8), as forças rebeldes anunciaram que o ditador Bashar al-Assad deixou Damasco em direção a um destino desconhecido, segundo oficiais do Exército citados pela agência Reuters.

Os rebeldes liderados pelo movimento extremista Hayat Tahrir al-Sham (HTS) avançaram rapidamente sem muita resistência do Exército sírio. Entre sexta-feira (6) e sábado (7), conquistaram Alepo, Homs e chegaram à capital Damasco.

O HTS, também conhecido como Organização para a Libertação do Levante, surgiu como uma filial da Al Qaeda, grupo terrorista por trás dos atentados do 11 de Setembro.

Uma revolta pacífica e pró-democracia contra Assad em 2011 — durante a Primavera Árabe — se transformou em uma guerra civil em grande escala que devastou o país e atraiu potências regionais e mundiais.

Assad ordenou a violenta repressão aos protestos de rua contra seu regime. A repressão provocou grande pressão internacional para que ele deixasse o poder, e o caos que tomou a Síria durante a guerra civil ameaçou a sobrevivência de seu regime.

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Em 13 anos de conflito, cerca de 500 mil pessoas morreram, sendo 200 mil civis. Doze milhões foram forçadas a fugir de suas casas — cerca de cinco milhões das quais são refugiados ou pediram asilo no exterior.

O ditador, no entanto, conseguiu consolidar novamente sua posição no conflito com a ajuda militar dos aliados Rússia e Irã, além do grupo libanês xiita Hezbollah. Após dez anos desde os protestos contra seu regime, Assad manteve-se no poder, mas partes do território sírio continuavam sob controle de outras forças - como grupos curdos, combatentes jihadistas e tropas da Turquia.

Antes da recente ofensiva dos rebeldes, a guerra parecia ter acabado com a vitória de Assad, depois que seu regime recuperou o controle da maioria das cidades da Síria com a ajuda da Rússia, Irã e milícias apoiadas pelo Irã. As linhas de frente da guerra permaneceram em grande parte paradas.

No entanto, grandes partes do país ainda estavam fora do controle do governo. Isso incluía áreas do norte e leste controladas pelas Forças Democráticas Sírias — uma aliança de grupos armados liderada por curdos e apoiada pelos Estados Unidos.

O último reduto dos rebeldes eram as províncias de Aleppo e Idlib, que fazem fronteira com a Turquia e onde mais de quatro milhões de pessoas viviam, muitas delas deslocadas.

O enclave era dominado pelo HTS, mas várias facções rebeldes aliadas e grupos jihadistas também estavam baseados lá. Facções rebeldes apoiadas pela Turquia — conhecidas como Exército Nacional Sírio — também controlavam territórios com o apoio de tropas turcas.

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A explicação está em outros conflitos internacionais. Os maiores aliados do ditador sírio são a Rússia e o Irã. Com o apoio desses dois países, mais a milícia libanesa Hezbollah, Assad conseguiu derrotar a primeira investida dos rebeldes e manteve o controle da maior parte do país.

No entanto, agora a Rússia está em guerra com a Ucrânia, e o Irã vive um conflito com Israel. O Hezbollah, por sua vez, perdeu seus principais comandantes neste ano, mortos em ataques israelenses.

Para os analistas, essa situação faz com que nem Putin nem o regime iraniano estejam dispostos a entrar de cabeça em mais uma guerra.

O cientista político Guilherme Casarões, da Fundação Getúlio Vargas, diz que não é uma coincidência a ofensiva ter sido lançada agora.

"Aqueles que eram os três principais aliados do governo Assad, Hezbollah, Irã e Rússia, estão meio que fora desse envolvimento direto com o conflito, o que abriu uma oportunidade para que os rebeldes tentassem retomar certas posições estratégicas dentro do país."

Assad e o presidente russo, Vladimir Putin, em foto de 2017

Mikhail Klimentyev/Sputnik via Reuters

Em uma reunião no Catar neste sábado (7), representantes de Rússia, Turquia e Irã pediram diálogo entre o governo sírio e as forças opositoras. No entanto, o chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que a negociação não deve incluir os extremistas do HTS.

"É inaceitável permitir que um grupo terrorista assuma o controle de territórios", afirmou o ministro de Putin, segundo a agência de notícias russa Tass.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que toma posse em janeiro, disse que a guerra da Síria não é um problema dos americanos e que seu governo não vai se envolver.

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Qual é o principal grupo insurgente?

As forças rebeldes são lideradas pelo HTS. Os Estados Unidos e a ONU há muito tempo designaram esse grupo como uma organização terrorista.

Seu principal líder, Abu Mohammed al-Golani, surgiu como chefe do braço sírio da Al-Qaeda em 2011, nos primeiros meses da guerra da Síria. A entrada do grupo terrorista marcou um ponto de virada no conflito, que havia se iniciado com protestos pacíficos da Primavera Árabe, reprimidos brutalmente pelo regime de Assad.

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Nos últimos anos, o HTS buscou se reerguer, com foco em promover um governo civil no território que ficou sob seu controle. O grupo rompeu laços com a Al-Qaeda em 2016.

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Golani reprimiu alguns grupos extremistas em seu território e cada vez mais tenta se mostrar como um protetor de outras religiões. Isso inclui, no ano passado, permitir a primeira missa cristã na cidade de Idlib em anos.

Quem são os outros atores na guerra civil

Presidente da Síria Bashar al-Assad, que governa o país desde a morte de seu pai, em 2000.

JOSEPH EID / AFP

Bashar al-Assad: ditador sírio desde 2000, quando sucedeu seu pai, Hafez a-Assad, após a morte deste. Sua família é alauíta, grupo muçulmano xiita. Ele governa de forma laica com o apoio da ditadura teocrática do Irã e é aliado do grupo extremista libanês Hezbollah, também xiita. Seu principal aliado internacional é a Rússia, cuja Força Aérea realizou diversos ataques a posições rebeldes durante o auge da guerra civil, até 2015.

Hezbollah: milícia xiita libanesa, aliada do Irã que luta principalmente contra Israel. Na guerra civil síria, porém, o grupo extremista engajou seu braço militar nos combates ao lado do regime de Assad. Agora, novamente, um destacamento foi para Homs lutar contra os rebeldes do HTS.

Estado Islâmico: o grupo terrorista declarou em 2014 um califado que tomou partes da Síria e do Iraque. O ramo da Síria e do Iraque do Estado Islâmico não controla mais nenhum território e não é conhecido por desempenhar um papel na luta atual.

EUA e Israel: tanto os EUA quanto Israel conduzem ataques ocasionais na Síria contra forças do governo e milícias aliadas ao Irã. Os EUA têm cerca de 900 militares no nordeste da Síria, longe de Aleppo, para se proteger contra um ressurgimento do Estado Islâmico.

Turquia: a Turquia também tem forças na Síria e tem influência nas forças rebeldes.

Curdos: por meio das Forças Democráticas Sírias (FDS), o grupo étnico controla territórios no nordeste da Síria, na fronteira com a Turquia e o Iraque. Embora aliadas aos EUA, eles têm laços com o grupo do Curdistão turco PKK, considerado uma organização terrorista pelo Ocidente. Recentemente, reivindicaram a tomada da cidade de Deir al-Zor, no leste da Síria.

Controle do território da Síria em 6 de dezembro de 2024

Editoria de Arte/g1

Por que o conflito recomeçou

Para o diplomata Robert Ford, que foi último embaixador dos EUA na Síria antes de os dois países cortarem relações, três fatores deram aos rebeldes a possibilidade de avançar no conflito sírio:

Os ataques que Israel vêm fazendo há meses contra alvos do Hezbollah na Síria — o grupo extremista, apesar de ser do Líbano, também atua em conflitos do Oriente Médio ao lado de aliados, como, neste caso, Bashar al-Asad;

O cessar-fogo firmado por Israel e o Hezbollah no Líbano na semana passada;

A Rússia, principal apoiadora internacional de Assad, também está preocupada com sua guerra na Ucrânia.

Por que a tomada de Aleppo foi tão importante

Na encruzilhada de rotas comerciais e impérios por milhares de anos, Aleppo é um dos centros de comércio e cultura do Oriente Médio.

A cidade era o lar de 2,3 milhões de pessoas antes da guerra. Rebeldes tomaram em 2012 o lado leste de Aleppo, que se tornou um símbolo do avanço das facções armadas da oposição.

Em 2016, forças governamentais apoiadas por ataques aéreos russos sitiaram a cidade. Projéteis russos, mísseis e bombas de barril cruas — latas de combustível ou outros contêineres carregados com explosivos e metal — arrasaram diversos bairros.

Famintos e sitiados, os rebeldes renderam Aleppo naquele ano.

A entrada dos militares russos foi o ponto de virada na guerra, permitindo que Assad permanecesse no território que ele controlava.

Neste ano, ataques aéreos israelenses em Aleppo atingiram depósitos de armas do Hezbollah e forças sírias, entre outros alvos, de acordo com um grupo de monitoramento independente. Israel raramente reconhece ataques em Aleppo e outras áreas controladas pelo governo na Síria.

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