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'Bug do milênio' completa 25 anos: por que o caos digital na virada do século nunca aconteceu

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Temor de que sistemas de bancos, telefonia, transporte, energia e outros seriam interrompidos em todo o mundo não se concretizou, e apenas problemas pontuais foram identificados. Falha foi contornada com esforço conjunto de empresas e governos. Falha em computadores após atualização da CrowdStrike causou 'tela azul' em aeroporto de Newark, nos EUA, em julho de 2024

Bing Guan/Reuters

Uma pane geral capaz de interromper a operação de sistemas de bancos, telefonia, transporte, energia: assim era tratado o "bug do milênio", também conhecido como "problema do ano 2000".

A teoria era de que muitas máquinas ao redor do mundo não entenderiam a virada de 31 de dezembro de 1999 para 1º de janeiro de 2000. Isso faria com que os registros feitos a partir do novo ano não fossem armazenados corretamente.

Onde estava o problema? Sistemas mais antigos registravam o ano com apenas dois dígitos ("99" em vez de "1999", por exemplo), padrão adotado para "economizar" espaço de armazenamento. Na virada para 2000, eles passariam a mostrar "00", o que poderia ser confundido com 1900.

Na tentativa de evitar o bug, empresas e governos investiram tempo e dinheiro para atualizar sistemas. A Organização das Nações Unidas (ONU) criou um grupo de cooperação, e a bolsa de valores de Nova York investiu US$ 30 milhões em uma correção feita entre 1988 e 1995, segundo o Guardian.

Na França, o banco Crédit Agricole investiu cerca de 140 milhões de euros, e a operadora de telefonia France Telecom (hoje chamada Orange) destinou 160 milhões de euros para este objetivo.

Central de operações contra o 'bug do milênio' em Los Angeles, nos EUA

Jim Ruymen/AFP/Arquivo

O que aconteceu em 2000? O esforço deu certo e, nos primeiros instantes de 2000, sistemas ao redor do mundo tiveram apenas erros pontuais que não chegaram nem perto de uma interrupção global.

No Japão, duas usinas nucleares tiveram pequenas falhas sem que isso representasse perigo, enquanto, nos Estados Unidos e na Austrália, algumas máquinas de passagens e caça-níqueis exibiram datas erradas, segundo informou a BBC, na época.

No Brasil, algumas linhas telefônicas chegaram a ficar bloqueadas, mas a avaliação foi de que isso aconteceu por contas das várias ligações de felicitações na virada do ano, e não pelo bug do milênio, como também afirmou a BBC.

"Na época, agências de risco previram prejuízos bilionários, mas, na prática, não aconteceu nada muito grave", disse Marcelo Pena, bacharel em ciência da computação e um dos coordenadores do Guia dos Entusiastas da Ciência, projeto de divulgação científica ligado à Universidade Federal do ABC (UFABC), em entrevista ao g1.

"O susto maior foi para sistemas em linguagens que não se conseguia colocar esses quatro dígitos. Isso acabou prejudicando uma ou outra empresa que não se atentou ao problema", destacou Kalinka Branco, professora do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC/USP).

Como a catástrofe global não aconteceu, muitos passaram a achar que o alerta tinha sido exagerado, disse Martyn Thomas, professor emérito de tecnologia da informação da Gresham College, na Inglaterra, ao Guardian.

"O bug do milênio era real e o esforço coordenado internacionalmente foi um grande sucesso. Dezenas de milhares de falhas foram evitadas", afirmou. "Nós que trabalhamos dias, noites e fins de semana nos irritamos quando pessoas ignorantes pensam que, porque tivemos sucesso, a ameaça não era séria".

Relembre a reportagem sobre os 20 anos do bug do milênio veiculada em 2019 no SP1:

Duas décadas do "Bug do Milênio"

Patinho Feio: como funcionava o primeiro computador brasileiro, criado há mais 50 anos

Um novo 'bug do milênio' é possível?

Por conta de outro padrão de data usado em muitas máquinas, já é possível prever o dia em que uma nova falha poderá acontecer: 19 de janeiro de 2038, às 3h14min07s (no padrão UTC, três horas à frente do horário de Brasília).

Esse bug é conhecido como "Y2K38" e está ligado ao padrão de hora utilizado por sistemas Unix. O formato soma o total de segundos passados desde 1º de janeiro de 1970, à 0h. Neste padrão, 1º de janeiro de 2025, à 0h (no fuso UTC), por exemplo, é exibido como "1735700400".

Isso é útil porque pessoas e sistemas em diferentes partes do mundo podem se referir facilmente ao mesmo momento no tempo, sem levar o fuso horário em consideração.

O que vai causar o bug Y2K38? Computadores usam números binários, formados apenas por 0 e 1. Em modelos antigos, de 32 bits, é possível exibir sequências de até 32 algarismos zeros e uns, o que permite representar cerca de 2 bilhões de segundos. Levando em conta que o padrão Unix começa em 1970, sistemas de 32 bits podem registrar datas até o ano de 2038.

Em 19 de janeiro de 2038, algumas máquinas mais antigas podem voltar a mostrar a data como 1970. Mas calma: a maioria dos sistemas mais recentes já saem de fábrica com o padrão de 64 bits, que tem uma capacidade muito maior para mostrar datas.

Isso não significa que panes globais não possam acontecer novamente.

Em julho de 2024, vários sistemas foram paralisados após erro na atualização da ferramenta de segurança CrowdStrike. O problema levou ao cancelamento de voos e impactou a operação de bancos, serviços de saúde e serviços públicos ao redor do mundo.

"As atualizações de software podem resolver problemas como no caso do bug do milênio, em que a mudança para quatro dígitos permitiu a sistemas guardar informações, mas, quando são indevidas, podem fazer com que um sistema todo trave", avaliou Kalinka, do ICMC/USP.

"Como a gente hoje é muito dependente de nuvem, se esses sistemas falharem, pode causar muito mais problema", disse Marcelo. "Se falhar o sistema da nuvem, afeta todo mundo que a usa. Esse é um problema muito mais perigoso".

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