O primeiro governo de Donald Trump entre 2017 e 2021 foi marcado por inúmeras entrevistas acaloradas e declarações polêmicas que repercutiram de forma bastante dúbia por todo o mundo. Sua postura protecionista em relação a economia, truculenta para com os inimigos e pouco amistosa com os aliados históricos, fizeram com que grande parte da diplomacia internacional tivesse que se adaptar para atender as preferências e excentricidades do presidente do país mais importante do mundo. Durante a campanha eleitoral de 2024, apesar de manter seu estilo midiático em seus comícios e entrevistas, suas falas foram amplamente consideradas mais moderadas do que o primeiro governo. Tal conduta, fez com que muitos analistas que cobrem a Casa Branca há anos, pensassem que seus quatro anos afastados do comando dos Estados Unidos, tivessem trazido a maturidade e o decoro necessários condizentes com o cargo que ocupou e ocupará. Contudo, a entrevista coletiva concedida hoje, repleta de frases de efeito e um tom ameaçador, nos faz repensar se a relativa moderação no final da campanha, foi realmente genuína.
Donald Trump, que trava uma batalha verbal contra o Canadá há semanas, voltou a repetir que considera a anexação do vizinho ao norte como o 51° estado, e que seria um ganho para ambos os territórios, além de cogitar novamente a compra da Groenlândia, território autônomo do Reino da Dinamarca. Em ambos os casos, Trump não explicou como concretizaria tais ações, apenas disse, que ambos os territórios representam forte interesse econômico aos Estados Unidos. Outro tópico de questionamento foi o canal do Panamá, grande obra da engenharia construída pelos norte-americanos na América Central há mais de 100 anos. Donald Trump argumentou que a construção conduzida pelo Exército dos Estados Unidos, é ainda parte fundamental dos negócios de múltiplas empresas em seu país e disse que hoje, o canal, seria controlado pela China. Em relação a essa alegação, não foram apresentadas provas ou evidências que corroborem a declaração. Quando questionado se utilizaria a força militar ou a coerção econômica para alcançar seus objetivos na Groenlândia e no Panamá, o presidente eleito apenas respondeu: "Não posso garantir nada sobre ambos. Mas posso dizer isso: precisamos deles para a segurança econômica".
Em relação à Europa, Donald Trump, disse que a guerra na Ucrânia é trágica e que caso fosse o presidente dos Estados Unidos na altura da invasão russa em 2022, Putin não teria seguido adiante com suas manobras militares, além de deixar claro que seu intuito é auxiliar na conclusão do conflito por meios diplomáticos, logo no início de seu mandato. Quando mencionou outra importante guerra em curso, a guerra entre Israel e Hamas, Trump foi categórico ao afirmar que "irá abrir as portas do inferno" caso o Hamas não liberte os reféns até a sua posse, no próximo dia 20 de janeiro. Todas essas fortes delcarações acerca de várias nações soberanas, instituições globais e conflitos pelo mundo continuam a repercutir intensamente por várias nações.
A utilização de artifícios retóricos, ameaças e até mesmo um tom jocoso em muito momentos, fizeram parte de seu primeiro governo e de sua campanha, mas a pergunta que paira no ar agora é se tudo isso dito será ou poderá ser cumprido em 4 anos de mandato. Há questões práticas que impedem a concretização de algumas falas, como a compra da Groenlândia, que não está à venda, ou a anexação do Canadá como um estado, que não tem interesse al em se juntar aos Estados Unidos e perder sua soberania. Todavia, há também questões realizáveis do aspecto prático, mas inviáveis do ponto de vista político, como uma intervenção militar no Panamá para tomar o controle do canal, já que qualquer medida dessa natureza minaria toda a credibilidade restante dos Estados Unidos, como uma nação que respeita a soberania de outros países. Aquilo que escutamos hoje pode ser apenas um prelúdio dos próximos quatro anos, como talvez seja apenas o último ato de Trump em seu modo de campanha, antes de assumir a roupagem mais séria e realista do presidente da nação mais influente do planeta. Qual postura será a adotada, saberemos a partir do dia 20 de janeiro. Esperemos.
jovem pan