Reestreia pelo Santos, nesta quarta-feira, é o primeiro passo em um longo percurso de retorno para o craque. E que pode ter reflexos na Copa do Mundo Especialistas abordam condição de Neymar após histórico de lesões
Tenho pensado que só um acontecimento extraordinário poderá dar alguma chance à Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2026. Só o chamado "Deus ex machina", aquele recurso meio estapafúrdio que surge milagrosamente para resolver uma trama que parecia insolucionável, pode nos salvar de uma nova Bélgica, de mais uma Croácia.
Do jeito que estamos, no compasso em que vamos, caberá aceitar a frase que aparece na entrada do inferno em "A Divina Comédia", de Dante Alighieri: "Deixai toda esperança, vós que entrais". Precisamos de algo que nos bagunce, que mude nossa órbita. Mas o que poderia ser?
Na minha opinião, já manifestada à exaustão neste blog, a resposta mais simples seria a entrada de um treinador estrangeiro na Seleção. Isso teria força para reordenar as peças do tabuleiro. Mas outros elementos também poderiam ajudar: talvez Vini Jr finalmente conseguir repetir pelo Brasil aquilo que fez em seus melhores momentos no Real Madrid, talvez algum centroavante (Endrick?) se consolidar até lá, talvez
Neymar?
Nesta quarta-feira, quando provavelmente fará sua reestreia pelo Santos, jogando alguns minutos contra o Botafogo-SP, Neymar começará a nos mostrar se é capaz de chacoalhar a Seleção. Pelo enorme talento que carrega, pelos títulos que conquistou na carreira, por ser o melhor jogador surgido neste país nas duas últimas décadas, é justo que isso seja ao menos uma possibilidade.
Eu não apostaria em um retorno salvador de Neymar à Seleção. Não acho que vá acontecer. Ele tem 33 anos, passou as últimas duas temporadas praticamente inativo, e a Copa do Mundo é daqui a 16 meses. Mas também não tenho coragem de descartar essa possibilidade, tamanho o talento do jogador.
Primeiro treino de Neymar no Santos
Raul Baretta/ Santos FC
O percurso será longo para Neymar até lá. Ele precisa primeiro voltar a ser um atleta de futebol, depois voltar a ser um jogador competitivo, depois voltar a ser aquele craque que decide jogos. Se é inegável que foi prejudicado por uma lesão gravíssima, também é preciso lembrar que seu rendimento já vinha caindo antes disso – e que a decisão de jogar na Arábia Saudita não foi lá um grande sinal de ambição futebolística.
Neymar merecia, a essa altura da carreira, uma relação melhor com a Copa do Mundo. Foi acometido por lesões sofridas já durante as disputas dos Mundiais de 2014 e 2022 – mesmo assim, fez um golaço contra a Croácia, depois apagado pelo pane coletivo no gol de empate do adversário. E chegou fora das melhores condições em 2018.
Ele admite que a próxima Copa será sua última. E dá sinais de tê-la como grande meta para esta reta final de carreira. Se o sentimento for genuíno, poderá ser o primeiro passo para algo mudar na Seleção.