GE

Ídolo do basquete foi procurado por Magic Johnson e treinador de Michigan State após partida com a seleção em 1978: "Se fecharam num vestiário comigo e falaram que eu precisava ir pra lá" Um dos maiores ídolos da história do basquete brasileiro, Oscar Schmidt é um dos maiores nomes do esporte que não chegou a jogar na NBA, a maior liga da modalidade no planeta. Ele chegou a ser recrutado pelo New Jersey Nets no Draft de 1984, mas optou por seguir na Europa para manter sua elegibilidade a jogar pela seleção brasileira, numa época em que o basquete internacional ainda era amador. O quarto episódio do podcast Campo da Imaginação, série de ficção narrativa do ge, devaneia por um universo em que Oscar aceita o convite para jogar nos EUA. Ouça no player abaixo:Um dos motivos que dificultaram a ida de Oscar para a NBA foi sua baixa posição no Draft - foi apenas a 131ª escolha, e recebeu uma proposta de contrato não garantido dos Nets. Mas o brasileiro poderia ter chegado à liga numa posição bem mais confortável se uma outra variável tivesse sido diferente: alguns anos antes daquele Draft, o "Mão Santa" foi convidado a jogar na universidade de Michigan State, a mesma de Magic Johnson. A revelação foi feita pelo fiel escudeiro de Oscar, Marcel Souza.Oscar Schmidt antes de participação no Jogo das Celebridades da NBATiago Leme / Globoesporte.com- Fizemos dois jogos contra Michigan State, vencemos eles em um jogo, logo antes da temporada que o time do Magic vence o título contra Larry Bird. O técnico de Michigan ficou apaixonado pelo Oscar, queria levar o Oscar de qualquer jeito para lá para jogar com o Magic Johnson... Foi no vestiário da Hebraica, eu vi. Foi ele e o Magic Johnson para levar o Oscar para Michigan. Ele não quis ir porque o sonho dele era viver do basquete, a gente era amador mais ou menos, não recebia mas ganhava muita coisa - contou Marcel.Outros episódios do podcast Campo da Imaginação:E se Senna tivesse escapado? Podcast imagina vida do piloto pós-ÍmolaCampo da Imaginação coloca Marta ao lado de Neymar em seleção mistaE se Brasil vencesse a Copa de 50? "Talvez deitasse nos louros", diz SimasOs jogos em questão foram parte da preparação da seleção brasileira para o Mundial das Filipinas, em 1978, no qual o Brasil terminaria com a medalha de bronze. Em 15 de agosto, os brasileiros venceram por 74 a 68 no Maracanãzinho, com 21 pontos de Oscar, ainda com 20 anos de idade e reserva naquela ocasião. Quatro dias depois, os times se reencontraram na Hebraica, em São Paulo, e desta vez Michigan State venceu por 96 a 94 após duas prorrogações.Registro do jornal O Globo da partida do Brasil contra Michigan State em 1978Acervo O GloboOscar foi novamente cestinha, com 30 pontos. Sua performance motivou o treinador Jud Heathcote a buscar o garoto para recrutá-lo para sua equipe. O próprio Oscar confirma a história.- Eu joguei bem, e o técnico de Michigan parecia que nunca tinha visto alguém meter bola daquele jeito. Realmente se fecharam num vestiário comigo e falaram que eu precisava ir pra lá. Eu falei que já namorava, ia casar... Eu poderia ter ido, levado a Cris, mas minha vida estava indo bem. Jogava na seleção, depois fui pra Itália. Podia jogar na seleção. Estava com a vida boa. Apesar de não ganhar de dinheiro, porque fui pra Itália ganhar um pouco mais - disse o "Mão Santa".Mesmo sem uma medalha olímpica, a história de Oscar Schmidt vale ouroAquele time de Michigan State retornaria aos EUA para se sagrar campeão nacional universitário em 1978-79, liderado por Magic, que sairia dali para o Los Angeles Lakers na primeira escolha no Draft de 1979. Naquela época, era raro um jogador ser selecionado para a NBA sem passar pelo basquete universitário. Marquinhos Abdalla, primeiro brasileiro recrutado pela liga em 1976, jogou pela universidade de Pepperdine por dois anos.- O sonho de todo jogador de basquete do Brasil naquela época era jogar na seleção brasileira, não na NBA. Até porque tinha a barreira do amadorismo/profissionalismo. O Oscar já tava na Itália, via a NBA, mas não tinha isso de sonho. O sonho era a seleção, e mesmo o Marquinhos, que foi draftado, nem foi notícia no Brasil. Se ele não conta, a gente não vai atrás, a gente nem saberia. Mas acho que ia revolucionar, ia aparecer para cá. Mas no começo a barreira era intransponível, perder o amadorismo - analisa Marcel, que também revelou que ele e Oscar foram sondados por equipes da liga após o título nos Jogos Pan-Americanos de 1987.Oscar em ação na histórica vitória sobre os EUA na final do Pan de 1987Arquivo CBB- Os caras vieram atrás da gente depois do Pan. É que o Oscar tinha contrato. Mas nós realmente impressionamos os caras. Contataram o Oscar. Os agentes falaram com o Oscar, e ele me perguntava "Te ligaram? Estão me ligando o dia todo, falando que nós vamos pra NBA." Nós chegamos 23 de agosto, o campeonato começa em novembro. Até 1º de outubro contataram muito o Oscar.O próprio Oscar manteve por anos que o grande motivo de não ter seguido para a NBA foi seu amor pela seleção brasileira. Mas o cestinha admite que também esperava uma oferta salarial mais vantajosa, que pudesse balançá-lo.- Eu queria que eles me oferecessem um contrataço, de milhões, como era o meu jeito de jogar. Eu queria ser premiado pelo meu jeito de jogar. Mas eles não deram, então eu falei "tchau" e voltei pra Itália - conta o ídolo.O podcast Campo da Imaginação está disponível no ge, na globo.com/podcasts e nas plataformas de áudio, com novos episódios todas as segundas-feiras.