Português falhou nas escolhas e na leitura do elenco, mas caiu num clube que insiste em repetir os mesmos erros com nomes diferentes. Santos demite Pedro Caixinha
O noticiário se repete na Vila Belmiro: mais um treinador, agora Pedro Caixinha, é demitido do comando do Santos.
Contratado em 23 de dezembro, o português durou apenas 112 dias no cargo. O número reflete um incômodo padrão: desde a saída de Cuca após a final da Libertadores de 2020, a média de permanência de um treinador no Santos é de 128 dias. É tempo suficiente apenas para estrear, errar, ser vaiado e cair.
Pedro Caixinha em Fluminense x Santos
Thiago Ribeiro/AGIF
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O Santos nunca foi exatamente um clube conhecido pela longevidade de seus treinadores. Tirando a honrosa exceção de Lula, sua história sempre girou em torno dos jogadores, especialmente dos Meninos da Vila como Pelé, Neymar e tantos outros. Os técnicos que deixaram marca foram aqueles que souberam se adaptar ao talento que surgia da base ou que construíram seus times ao redor dos craques que tinham à disposição.
Mas e quando os Meninos da Vila já não são suficientes para sustentar esse modelo? Quando o talento não brota em abundância e a aposta precisa recair no trabalho, no método, na construção?
É aí que o problema começa.
Os erros de Pedro Caixinha no Santos
Pedro Caixinha foi contratado para dar o método que faltou à Fabio Carille. Um treinador estrangeiro, com ideias firmes, experiência recente no Bragantino e um discurso alinhado à necessidade de reconstrução. Era o nome perfeito no lugar que precisava dele. Investimentos foram feitos: Leo Godoy, Thaciano, Tiquinho Soares, Rollheiser e Zé Rafael. E a maior de todas, em qualquer clube brasileiro no ano: Neymar, retornando com a 10 aposentada desde a morte do Rei.
Os primeiros jogos trouxeram empolgação. Decisões como o afastamento de Gil e a aposta em novos nomes esboçava um novo momento. Caixinha esboçou uma formação ofensiva interessante: um 4-2-3-1 que, na prática, virava um 4-2-4 com Soteldo, Thaciano, Guilherme e Tiquinho entrando na área a todo momento, com muita verticalidad. Com Neymar em campo, a engrenagem parecia ganhar a genialidade e o toque de cérebro que faltava.
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Sem Neymar em boa parte dos jogos e com Thaciano lesionado, Caixinha repetiu um erro que já havia cometido no Talleres: confiou demais no modelo e pouco na adaptação. A derrota na semifinal contra o Corinthians escancarou essa rigidez. O Santos lutou, mas não jogou.
Diante da ausência de um camisa 10 de fato, faltou leitura para ajustar o time de maneira funcional. Com Gabriel Bontempo recuado à função de segundo volante, o treinador manteve a estrutura do 4-2-3-1, com uma trinca de meias ofensivos que, na prática, funcionava quase como um segundo trio de ataque, logo atrás de Tiquinho. Guilherme, Rollheiser e Barreal tiveram bons momentos, especialmente contra Vasco e Bahia.
Pedro Caixinha e Rogério Ceni em Santos x Bahia
Mauricio De Souza/AGIF
Foi aí que a preparação física mostrou ser um ponto crítico do trabalho Mesmo com semanas livres e um calendário enxuto, já que o time disputa apenas duas competições, o Santos demonstrou queda de intensidade evidente. A desorganização física permitiu aos adversários construir resultados, como a virada do Vasco. Restou reintregrar Gil, traindo o discurso de renovação que o próprio Caixinha reconheceu.
O trabalho, que já era questionado, foi encerrado diante dos muitos erros no jogo contra o Fluminense: Rollheiser isolado para criar, Bontempo fora do time sem explicação e novamente erros defensivos que fazem o Santos ter apenas 1 ponto da Série A.
O contexto do Santos torna o erro muito maior do que ele é
Agora, a diretoria avança nas negociações com Jorge Sampaoli. O argentino, que treinou o clube entre 2018 e 2019 e foi vice-campeão brasileiro, agrada ao presidente Marcelo Teixeira, que já havia tentado trazê-lo de volta no ano passado.
sampaoli
Getty
O contexto de sua possível chegada é o mesmo de 2019: um nome forte em meio à mesma estrutura fraca. Lá, ele herdou um Santos destroçado e contou com muitos investimentos para levar o clube a ser vice-campeão brasileiro. Não chega a ser exatamente um sucesso, mas ainda sim, é lembrado com carinho.
Vale lembrar que Sampaoli chega num momento de curva descendente na carreira. Desde que deixou o Atlético-MG, cercado por críticas e memes sobre exigências exageradas por reforços, o argentino não conquistou nenhum título. Em 2023, deixou o Flamengo sob fortes críticas. Seu último trabalho, no Rennes, da França, também foi breve e frustrante: apenas dois meses no cargo, com 10 jogos, 3 vitórias e 7 derrotas.
No fim das contas, Sampaoli também é uma aposta. Como foi Caixinha. Como foram Bustos, Odair Hellmann e tantos outros que, entre erros evidentes e alguns acertos, acabaram engolidos por problemas muito maiores que qualquer prancheta.
No Santos, a crise não muda de figura entre uma troca e outra: ela apenas ganha um novo rosto à frente de uma estrutura que permanece falha: gestão errática, processos improvisados e dinheiro mal investido.
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