No velório, a avó materna de Eloah, Simone Santos pediu justiça e lembrou quando viu a neta nos braços da mãe. "Sou vizinha da minha filha. Escutei os tiros e gritos e saí correndo de casa. Vi minha filha carregando a criança e o tiro no peito. Um tiro para matar uma criança sem defesa."
Eloah foi atingida durante conflito causado pela chegada de policiais militares para dispersar uma manifestação de moradores contra a morte de Wendel Eduardo, de 17 anos, em uma ação da Polícia Militar (PM) no Dendê, que tinha ocorrido mais cedo. O tenente-coronel Fábio Batista Cardoso foi afastado do comando do 17° Batalhão da Polícia Militar (BPM), na Ilha do Governador.No trajeto até o sepultamento, moradores do Morro do Dendê soltaram balões brancos, fogos de artifício e batiam palmas enquanto o caixão passava. Crianças carregavam faixas e cartazes com os dizeres "Eloah vive".
O pai da menina, Gilgres da Silva, carregou sozinho sobre o ombro o caixão da filha da capela até o local do enterro. "Falei para a minha filha que ficaria com ela até o final. Eu consegui. Estou com você para sempre. Por onde ela passava aquela garota largava um amor que era inesquecível", disse. Gilgres recebeu da organização não governamental (ONG) Rio de Paz uma Bandeira do Brasil com 14 furos, representando as 14 crianças e adolescentes mortos por balas perdidas em quase dois anos.
O fundador da Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, disse hoje à tarde, no velório de Eloah, que a família da criança quer ser recebida pelo governador do Rio, Cláudio Castro, para cobrar uma política de segurança pública do estado. "Se fosse na Avenida Vieira Souto, na zona sul, as pessoas já teriam agido. Até quando vamos ter essa política de extermínio? Em apenas um ano e oito meses, entre janeiro de 2022 e agosto de 2023, 14 crianças foram mortas por bala perdida no Rio de Janeiro. A maioria teve a vida interrompida como consequência de operação policial", disse.
Agencia Brasil