"A gente conseguiu todos os laudos, os alvarás, para derrubada do muro. E a gente mostrou que o poder não fazia e a gente podia fazer", relembra a líder comunitária Alessandra Moja, que vive há 30 anos na comunidade. "A comunidade viu que a força está no povo, não está no poder", enfatiza sobre como a ação reforçou o senso de união das famílias que vivem na favela.
À época, o moinho tinha passado por grandes incêndios que haviam destruído centenas de residências. Em 2011, 1,2 mil pessoas ficaram desabrigadas devido ao fogo e duas pessoas morreram. No ano seguinte, em 2012, pelo menos uma morte foi registrada e mais 300 pessoas perderam suas casas.Assim, em 2013, a comunidade resolveu liberar a marretadas as rotas de fuga da favela. "Desde então, retomamos a metade do terreno que nos foi usurpado, centenas de famílias construíram seus lares, fizemos um cine clube, capinamos e assentamos as vielas por onde nossas crianças correm e brincam", diz o chamado para a festa de comemoração da ação.
Resistência
Além de enfrentar os incêndios, as famílias do Moinho vêm, ao longo dos anos, resistindo às tentativas do Poder Público de desocupar a área. Em 2017, a prefeitura de São Paulo chegou a acusar a comunidade de fornecer drogas para a Cracolândia, aglomeração de pessoas em situação de rua que usam drogas, a cerca de 2 quilômetros do local. O projeto anunciado na ocasião, no entanto, não teve continuidade.
Nem mesmo a possibilidade de ser atendida por um programa habitacional faria Alessandra deixar o lugar onde criou a filha, que hoje tem 25 anos. "Um apartamento não paga uma história de 30 anos", resume a recicladora sobre os sentimentos que têm em relação à comunidade.
Cinema e música
Para contar essa trajetória será exibido o documentário Muro da Vergonha, do coletivo Fabcine. Artistas da comunidade também farão apresentações a partir das 17h deste sábado.
Agencia Brasil