O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nas próximas terça, 2, e quarta-feira, 3, para discutir os rumos da política monetária e da taxa de juros do Brasil. Desde a última reunião, finalizada em 22 de março, ocorreram avanços no cenário econômico, entre eles a apresentação do novo arcabouço fiscal. Atualmente em 13,75% ao ano, a Selic se encontra em seu maior patamar desde 2016. No último encontro, o grupo realizou a quinta manutenção consecutiva da taxa básica de juros, mesmo após a intensa pressão que tem sido feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por aliados, que cobram cortes na taxa e criticam os efeitos dos juros sobre a atividade econômica. O comitê havia sinalizado anteriormente a possibilidade de uma nova alta na Selic, mas o Palácio do Planalto bate na tecla que os recentes resultados positivos na economia, como a inflação abaixo do esperado, poderiam incentivar até mesmo uma queda nos juros. Já a expectativa do mercado, de acordo com especialistas ouvidos pela Jovem Pan, é que o Copom mantenha a taxa em 13,75% ao ano. Economistas observam que, apesar das medidas econômicas positivas, ainda não houve grandes alterações no contexto nacional e internacional. A incerteza em relação ao cenário inflacionário deve fazer com que o órgão mantenha sua posição e aguarde uma maior estabilidade no contexto financeiro global. Também se espera o aumento da fúria de Lula e seus aliados.
Para o economista Carlos Caixeta, conselheiro de administração certificado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (CCA IBGC), a ata do próximo Copom deve seguir o padrão das anteriores, sendo muito conservadora e técnica, ao passo em que certamente demonstrará o compromisso da autoridade monetária com a redução da inflação. “Em se mantendo o perfil conservador, a estratégia deve ser manter a Selic em 13,75%, uma vez que a inflação presente e esperada para 2023 ainda está acima da meta do Banco Central. Ainda não houve mudanças significativas, no contexto interno e externo, que justifiquem mudanças na condução da política monetária. A conjuntura continua marcada pela alta volatilidade nos mercados financeiros globais, e há expectativas persistentes de maior inflação com relação às metas de longo prazo”, pontua. Ele afirma que a redução da Selic seria uma boa surpresa e um alívio para as finanças do país, mas não acredita que isso ocorra já na próxima reunião. Alessandro Azzoni, economista e conselheiro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), também avalia que a autoridade monetária deve manter a Selic em 13,75%. O motivo seria a tentativa de reduzir ainda mais os impactos inflacionários. “A diretriz do Banco Central é garantir o poder de compra das famílias e do real. Por isso, a taxa de juros deve ser mantida nesse nível. Ainda temos as incertezas de desacelerações das economias mundiais, pelas crises relacionadas aos efeitos da guerra na Ucrânia e a questão dos semicondutores que está atingindo as montadoras. Esse cenário para o Banco Central é crítico em relação à redução da inflação brasileira. O arcabouço fiscal, para o Copom, é somente uma sinalização de prosperidade fiscal. Como não tem aprovação no Congresso Nacional, nesse momento, não há sinal de redução na inflação”, afirma.
Diretor do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), Carlos Pinto indica que, dentro do prognóstico normal, observando as recentes projeções da inflação, o mais provável é que o BC decida manter a taxa de juros no mesmo patamar. “Neste momento, o Banco Central não vai ceder sobre isso. Mas, futuramente, ele pode realmente adotar uma taxa mais atrativa. Quando a gente fala de estímulo, é importante perceber o que aconteceu lá no governo Dilma. A fim de alavancar a arrecadação, ela deu crédito para o mercado e reduziu a taxa de juros. Naquele momento, houve um endividamento do mercado que, logo depois, culminou em uma crise. Quando se fala de segurança, a economia não deve voltar a rodar estimulando o endividamento. O que o governo quer, no final de tudo, é estimular o consumo para arrecadar mais. Quando você percebe que o arcabouço fiscal traz regras que alteram a lei do teto dos gastos públicos, acaba percebendo que o real interesse do governo é arrecadar mais e endividar a população para poder cumprir o volume de promessas que foram feitas em pré-campanha e acabaram culminando na eleição do presidente. É um cenário que está diretamente ligado com isso e não traz a segurança que justifique a redução da taxa de juros”, analisa.
Caixeta ainda pondera que as pressões do governo não devem impactar a decisão do colegiado, uma vez que eles atuam de forma técnica e independente. A contribuição do Estado seria apenas no sentido de gastar menos do que arrecada e em áreas prioritárias para o desenvolvimento do Brasil. O economista complementa que o Banco Central ainda aguarda a efetiva redução da inflação geral e das expectativas futuras da inflação para começar a reduzir a Selic. “Os juros devem começar a cair quando houver maior estabilidade nos cenários financeiros globais, menor inflação como resultado real da disciplina no cumprimento dos princípios do novo arcabouço fiscal e redução continuada da inflação nos segmentos dos bens industriais, alimentos e serviços. Essas condições mais favoráveis provavelmente serão verificadas a partir do segundo semestre de 2023, permitindo o início do movimento de queda progressiva da Selic”, esclarece. Tal visão bate com a de Alessandro Azzoni, para quem a redução deve ser iniciada no final deste semestre ou do meio do ano para frente, com a taxa convergindo para 12,5%. “A manutenção da Selic em 13,75% é um obstáculo para o crescimento da economia. Se você tem estimativa de 6% de inflação para este ano, trabalhar com nível a 110% acima da meta traz um entrave para a economia e veta qualquer crescimento. A taxa de juros em dois dígitos é um absurdo. A aprovação do arcabouço fiscal na Câmara, sem muitas emendas, traria alívio na questão do mercado sobre o risco fiscal brasileiro e impactaria na inflação brasileira, trazendo estabilidade até para a questão dólar-real. A inflação, apresentaria uma tendência de queda, o que ajudaria o Banco Central a baixar os juros”, observa. Até lá, o embate entre Lula e Roberto Campos Neto, presidente do BC, deverá ganhar novos capítulos.
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