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Museu das Culturas Indígenas exibe manto sagrado Tupinambá até domingo

Em 2000, Nivalda Amaral de Jesus, a Amotara, visitou, em São Paulo, a exposição Brasil +500, que celebrava os 500 anos do descobrimento do Brasil.

Por Rede Vida Brasil

16/09/2023 às 10:33:23 - Atualizado há
Foto: Reprodução internet

Glicéria Tupinambá confeccionou o manto exposto no Museu das Culturas Indígenas - Paulo Pinto/Agência Brasil

O manto que está na Dinamarca deverá chegar ao Brasil somente em janeiro. Mas, para antecipar essa chegada, o projeto Manto em Movimento tem promovido uma ação de ativação que pretende apresentar um manto Tupinambá de forma itinerante por vários museus de São Paulo.

Confeccionado por Glicéria Tupinambá, o manto ficará em exibição no Museu das Culturas Indígenas, na capital paulista até este domingo (17). Depois, seguirá para a Pinacoteca, para os museus do Ipiranga e de Arte Contemporânea e para a Ocupação 9 de Julho, retornando para a Casa do Povo.

A exposição Manto em Movimento é uma mostra documental que refaz o percurso da artista no reencontro com os mantos de seu povo. A mostra também se interconecta com a luta pela demarcação do território Tupinambá. O manto confeccionado por Glicéria tem percorrido vários museus, mas a Casa do Povo, especialmente, preparou uma mostra completa sobre esse trabalho da artista, apresentando mapas, iconografias, textos e painéis que pode ser visitada até o dia 9 de dezembro.

A artista e ativista Glicéria Jesus da Silva, a Glicéria Tupinambá, tem pesquisado sobre essa indumentária há algum tempo. Inspirada nesse reencontro de Amotara e Aloísio com o manto, Glicéria confeccionou outros quatro, com o objetivo de reencontrar aqueles que haviam sido levados para a Europa. Sua proposta não é de uma retomada material. Seu trabalho, explica a Casa do Povo, está conectado ao direito à memória e à ancestralidade, que permite exercer o direito de reaprender e reviver uma tradição, relembrando seu modo de feitura e dos rituais que a indumentária representa.

"O primeiro manto que eu fiz foi em 2006 para homenagear os Encantados e foi doado para o Museu Nacional na exposição Os primeiros brasileiros. Depois disso, os Encantados me pediram para que eu fizesse mais três mantos. Ele foi feito com base no manto que eu tinha visto de perto, na França, e também na minha pesquisa", explicou a artista à Agência Brasil.

"Na França, foi a primeira vez que o manto falou comigo. Naquele momento, descobri que o manto era um ancestral, uma entidade e que estava se comunicando. E ele me trazia a mensagem de que os mantos eram portados por mulheres e eram feitos por mulheres. E que eu deveria buscar isso. Então voltei para a aldeia e fui confeccionar esse manto, encontrando esses pontos e fragmentos que estavam com minhas tias-avós. Elas tramavam com o ponto do jereré. Eu consegui resgatar esse ponto e desenvolvi uma outra técnica, mas cheguei no mesmo objetivo. E aí comecei a fazer a aplicação das penas, que são coletadas dentro do território. Toda a comunidade se envolveu na feitura desse manto, que é coletiva", lembrou Glicéria.

Para confeccionar o manto, foram necessários quatro meses e penas de vários pássaros e aves como peru, frango, canário-da-mata, gavião e guiné. E essa indumentária, destacou Glicéria, é feminina. "Ele [o manto] reforça as majés, as mulheres que têm o poder de cura e de reza, que são as parteiras e benzedeiras."

Além do manto que está na Dinamarca, a Casa do Povo informa que há mais dez espalhados por museus europeus. Esses artefatos, produzidos entre os séculos 16 e 17, teriam sido trocados em negociações diplomáticas ou saqueados durante a colonização. No Brasil, fisicamente, não restou nenhum, mas eles resistiram na memória ancestral de seu povo.

Mais informações sobre a visitação ao projeto Manto em Movimento pode ser obtida no site da Casa do Povo ou no do Museu das Culturas Indígenas.

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