O combate aos efeitos provocados pelas ondas de calor no município do Rio já conta com pontos de hidratação espalhados por unidades de saúde da capital.
O esquema faz parte do Plano de Contingência da Prefeitura do Rio para minimizar os impactos das ondas de calor na população, anunciado nesta segunda-feira por Daniel Soranz, secretário municipal de Saúde, pela secretária do Meio Ambiente, Tainá de Paula, e pelo chefe-executivo do Centro de Operações do Rio (COR), Marcus Belchior.
"Os locais [de atendimento] estão no site da secretaria municipal de saúde. São 100 pontos de hidratação oral e hidratação venosa nas clínicas de famílias e nos centros municipais de saúde", contou em entrevista à Agência Brasil.De acordo com os números da rede municipal de saúde foi registrado um aumento expressivo na média semanal de atendimentos a doenças causadas pelo calor ou passíveis de agravamento em altas temperaturas. Ao todo, foram 1.121 notificações entre os dias 8 e 15 de novembro, o que representou alta de 51% em relação aos sete dias anteriores.
"O cálculo abrange os diagnósticos de mal-estar e fadiga; hipotensão (pressão baixa); efeitos do calor e da luz; síncope e colapso; e edema. O diagnóstico de mal-estar e fadiga, por exemplo, somou 667 ocorrências no período mencionado, com recorde diário de atendimentos no dia 8 (166). Vila Kennedy [bairro da zona oeste] registrou o maior número de ocorrências da enfermidade por região (274), seguida de Madureira (56) e Rocha Miranda (45) [os dois na zona norte]", informou a Prefeitura do Rio.
O Super Centro Carioca de Saúde, em Benfica, na zona norte do Rio, também vai fazer atendimentos. O local e as unidades de saúde estão disponíveis para atender qualquer pessoa que tenha algum sintoma de estresse por calor, fraqueza ou dor de cabeça.
Para o secretário, o número de pontos de atendimentos é suficiente porque a maior parte dos pacientes já é atendida pela rede de unidades de saúde. Segundo Soranz, o que a secretaria está fazendo é estruturar melhor esse atendimento, revisando os protocolos para hipertermia, queimadura de sol, descompensação, insuficiência cardíaca e outros cuidados necessários com calor intenso.
"É na verdade uma grande atualização clínica para os profissionais de saúde da rede municipal que já fizeram muitas hidratações e já trabalharam em epidemias de dengue anteriores, mas que é sempre bom a gente estruturar e atualizar cada vez mais", completou.
"A gente precisa consumir, pelo menos, 35ml por quilo de peso. Uma pessoa de 60 quilos precisa ingerir pelo menos dois litros de água por dia, de 85 quilos pelo menos 3 litros de água por dia", sugeriu o secretário de Saúde, destacando ainda que é importante estar sempre acompanhado de uma garrafa de água.
Crianças e idosos são os que mais preocupam as autoridades de saúde nos casos de desidratação. "Muitas vezes a mãe não percebe que aquela criança, que não fala porque ainda é um bebê, e enrolada em paninhos, essa criança desidrata muito rápido. A gente teve mais de dez internações em crianças com sintomas de desidratação, cinco delas precisaram de internação hospitalar, uma situação crítica para as crianças e os idosos que também desidratam mais rápido. Tem que ficar muito atento a algum tipo de deficiência que a pessoa não consiga expressar que está com sede", disse,
Soranz acrescentou que a maior parte das internações e atendimentos relacionados ao calor está ligada a hipertensão, diabetes e insuficiência cardíaca. "É preciso ficar muito atento na utilização dos medicamentos regulares", disse, destacando que devem ser evitadas comidas pesadas e dar preferência a frutas e legumes.
"É essencial mudar a alimentação para facilitar o trabalho do corpo na digestão e evitar a sensação de aumento de calor", disse.
O armazenamento de alimentos também deve ter um cuidado especial em períodos de temperaturas elevadas. "No calor intenso os alimentos se deterioram mais rápido. Há proliferação de bactérias e de fungos com uma velocidade muito maior. É preferível levar os alimentos sempre em bolsas térmicas".
O secretário recomendou ainda à população evitar a ingestão de bebidas alcoólicas e de refrigerantes e o consumo de substâncias ilegais ou drogas. "Isso pode de fato causar um problema seríssimo para o corpo e morte nesse período, então requer uma atenção muito especial dos dependentes químicos, principalmente os alcoolistas."
Nos casos de ressecamento dos olhos e de narinas, por baixa umidade, a recomendação é usar soro fisiológico. "Sempre no olho e nariz o ideal é utilizar uma solução fisiológica, um umidificador ou um balde com água no ambiente também podem ajudar".
Para reduzir o desconforto e problemas de saúde, o recomendável é a utilização de roupas leves e bonés em dias de calor intenso. A prefeitura já autorizou por meio de decreto, o uso de bermudas para os setores municipais e motoristas de táxis, ônibus, vans, kombis e credenciados. "Isso não é uma brincadeira. Não é um luxo. Utilizar roupas leves, principalmente, no seu trabalho do dia a dia pode evitar muito estresse térmico. A principal fonte de troca de calor da gente com o meio ambiente é a pele."
O Plano de Contingência inclui a distribuição de água e isotônicos, roupas, chinelos e protetor solar para a população e situação de rua nos pontos de atendimento, que funcionarão também como áreas de conforto térmico para populações mais vulneráveis. "As bebidas isotônicas são importantes para o período de maior calor, mas não devem ser utilizadas de maneira corriqueira pela população, especialmente, para quem tem hipertensão arterial", recomendou.
Em dias de temperatura acima de 45°C, a secretaria recomenda que a população evite atividades físicas e a realização de trabalhos ao sol. Para além de 50°C, a secretaria vai avaliar a suspensão de determinadas atividades e permanência em alguns locais. "Esses protocolos ainda estão em fase de fechamento. A ideia é que a gente consiga concluir todos eles antes do dia 22, início do verão, mas a expectativa é que a gente já comece a ter parâmetros claros do que vai ser fechado ou o que não vai e como isso vai funcionar."
De acordo com o secretário, no caso de suspensão de atividades de trabalho, a maioria das empresas já utilizam protocolos que tratam do tema. "É importante a gente reforçá-los de maneira uniforme para todo mundo", contou.
Soranz alertou para o perigo de usar bronzeadores solares, especialmente os não registrados, porque provocam queimaduras na pele. "Até brigam comigo, falando que vamos acabar com os bronzeadores solares nas lajes e favelas do Rio. É muito importante que a gente use produtos seguros e que protejam a pele da exposição ao sol e evite queimaduras. Tivemos cinco pacientes em situações muito graves devido à exposição ao sol porque usarem bronzeadores", afirmou.
Em todo o período de calor, o melhor é usar filtro solar. É fundamental para qualquer exposição ao sol mas também na incidência de raios solares que não sejam diretamente, mas podem causar muitos danos à pele. O efeito tardio dessa exposição é o câncer de pele que ainda é prevalente no Rio de Janeiro."
Outra orientação é para os cuidados com os animais nos dias de calor intenso. "Evitar passeios com os animais das 9h às 16h para que a pata do animal não tenha contato com a superfície do solo em alta temperatura. Preferir sempre o passeio em grama e interno, por isso os parques são fundamentais. Troque regularmente a água do seu pet. A água fresca é fundamental também para os bichinhos. Se vai levar em uma gaiola é bom ver se o ambiente está ventilado para a troca de calor e evitar qualquer tipo de roupa que impeça o animal de fazer a troca de calor e não deixar as casinhas no sol. Cuidado também com correntes de metal porque elas podem causar queimaduras nos animais".
Soranz acrescentou que por causa de possíveis contaminações da água em períodos de chuva, todas as doenças infecto-parasitárias são preocupantes no período do verão, principalmente, quando se trata de leptospirose, hepatite A, e intoxicações alimentares provocadas por alimentos estragados em temperaturas elevadas. "Outra preocupação é com as arboviroses devido a maior proliferação de mosquitos neste período de verão, como dengue, zika e chikungunya", completou.
Conforme o secretário, em período de altas temperaturas a proliferação dos mosquitos Aedes aegypti pode aumentar em até cinco vezes. Além disso, no tempo seco há o risco de queimadas na vegetação e incêndios.