O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (21) que a projeção do Comitê de Política Monetária (Copom) de seguir reduzindo os juros em 0,5 ponto percentual serve apenas para as próximas duas reuniões do colegiado, não valendo para indicar cortes posteriores.
As próximas duas reuniões do Copom estão marcadas para janeiro e março do ano que vem, e a seguinte será em maio. Hoje, a taxa Selic encontra-se em 11,75% ao ano, após quatro reduções seguidas de 0,5 ponto percentual. No corte mais recente, neste mês, o comitê comunicou que deve manter o ritmo de redução "pelas próximas reuniões", deixando em aberto quanto duraria o ciclo de baixa.
Ao ser questionado nesta quinta, Campos Neto afirmou que o Copom definiu que em suas comunicações dever manter um guidance - uma indicação para o futuro - curto, abarcando apenas as próximas duas reuniões."É um horizonte compatível com as nossas incertezas e a nossa visibilidade como politica monetária", disse Campos Neto. "A gente acha que essa é a forma de conduzir a política [monetária] com o mínimo de custo, o mínimo ruído possível", acrescentou.
O presidente do BC ressalvou, contudo, que "a gente não garante nada", e que, mesmo com a indicação de corte nas próximas duas reuniões, isso pode ser reavaliado a cada reunião.
Questionado se uma eventual flexibilização da meta fiscal do governo pode afetar o ritmo de queda de juros, Campos Neto respondeu que essa relação existe, mas "não é mecânica".
Ele ponderou haver outros fatores que compensam eventual aumento de gastos estatais, como a aprovação de reformas como a tributária, cuja emenda constitucional foi promulgada na quarta-feira (20) no Congresso.
"Se o fiscal for um pouquinho pior, mas o governo segue fazendo reformas, o mercado entende que uma coisa compensa a outra, e isso não afeta as variáveis no nosso arcabouço de decisão, então não é tão relevante para gente", explicou o presidente do BC.
Ele parabenizou o governo e, em especial, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela aprovação da reforma tributária, e repetiu que a agenda reformista "compensou" a pressão do governo por mais gastos, mantendo as expectativas para a inflação estáveis.
Mais cedo, o BC divulgou o Relatório Trimestral de Inflação, no qual subiu ligeiramente, de 2,9% para 3%, a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Ainda segundo o relatório, a probabilidade de que a inflação de 2023 estoure a meta (4,75%) neste ano caiu de 67% para 17%.