Fluminense e Manchester City tinha tudo para ser mais um jogo trivial do futebol, sobretudo se a taça não vier para o Brasil.
Fluminense e Manchester City tinha tudo para ser mais um jogo trivial do futebol, sobretudo se a taça não vier para o Brasil. De um lado, o campeão da Libertadores, que entra em campo nesta sexta-feira, 22, para a partida mais importante de sua história mais que centenária. Do outro, o multimilionário clube inglês, uma das potências europeias que quer entrar para o seleto grupo de campeões mundiais. Mas a final do Mundial de Clubes, disputada na Arábia Saudita, é uma espécie de jogo que todos gostariam de ver. É o confronto que vai opor Fernando Diniz, o atual técnico da seleção brasileira, ainda que na condição de interino, e Pep Guardiola, considerado por muitos o maior treinador de todos os tempos. É uma espécie de disputa entre o criador e a criatura: o futebol revolucionário de Guardiola, com seu jogo posicional bastante conhecido, contra o mais autoral dos trabalhos brasileiros, o dinizismo, que alcança o maior palco de sua carreira.
O último time sul-americano a vencer o Mundial de Clubes foi o Corinthians, em 2012. De lá para cá, a taça ficou com Real Madrid (quatro vezes), Bayern de Munique (duas vezes), Barcelona, Liverpool e Chelsea. Desde 2000, quando o torneio ganhou o atual nome, os brasileiros venceram mais três vezes: Corinthians (2000), São Paulo (2005) e Internacional (2006). O domínio europeu também pode ser visto com outro recorte. Desde 1995, ano do caso Bosman, que mudou a história do futebol, foram 28 finais de Mundial, com 22 vitórias dos times da Europa. A final desta sexta-feira será a última disputada no atual formato. Um ingrediente a mais para esta tão aguardada final.
O Manchester City, apesar dos desfalques de Haaland e De Bruyne, dois dos principais jogadores do mundo, ainda é o favorito. Apesar do momento ruim na temporada, os Citizens ostentam a condição de time a ser batido. Do outro lado, o Fluminense de Fernando Diniz chega à decisão com os pés no chão, sentimento traduzido nas palavras do técnico do Tricolor das Laranjeiras e de Felipe Melo, experiente zagueiro, na coletiva pré-jogo. O time do Rio de Janeiro pode até não contar com o apoio de todos os brasileiros, mas é inegável que ao menos uma parte dos amantes do futebol estará torcendo para uma façanha dinizista.
Em 1992, o Barcelona enfrentou o São Paulo, à época comandado por Telê Santana, um dos maiores treinadores da história do futebol brasileiro. O time catalão, naquele dia, era treinado por Johann Cruyff, que revolucionou o esporte, e tinha Pep Guardiola, como volante, em campo. O Manchester City de Guardiola tem muitas semelhanças com o Barça daquela época. Para muitos, o “Guardiolismo” é a evolução do trabalho de Cruyff. Mais de 30 anos depois, outro brasileiro, Fernando Diniz, desafia Guardiola, agora no banco de reservas, com seu estilo de jogo aposicional, ou seja, aquele que leva o jogador até a bola. Em outras palavras, o Flu opta por concentrar a maior parte dos atletas na região da bola, a fim de conquistar superioridade numérica contra o adversário. Assim, dizendo de forma simples, é mais fácil chegar ao gol do rival. Guardiola, por sua vez, adota o jogo posicional, modelo antagônico ao de Diniz. Neste caso, a bola vai até o jogador. Os atletas ficam posicionados em determinadas regiões do campo e se movimentam neste espaço para tentar superar o esquema da outra equipe.
Levando para dentro de campo, é possível dizer que Grealish e Foden, os ingleses que atuam como pontas no time do City, ficarão bem abertos pelos lados do campo, a fim de ampliar o espaço do campo e abrir a defesa do Fluminense. Por outro lado, o Tricolor das Laranjeiras, provavelmente, vai repetir a fórmula que marca o trabalho de Diniz coroado com o título da Libertadores: Keno, Arias, Ganso, Marcelo e Martinelli próximos uns dos outros. São duas equipes que gostam de ficar com a bola no pé, na tentativa de envolver o adversário e, mais do que isso, ter o controle do jogo a maior parte do tempo. Este será um ponto interessante a ser observado. No duelo de duas equipes que tem amor pela bola, quem ficará mais com ela em seus pés? Na semifinal, o Urawa Reds, time japonês, suportou a pressão do City por cerca de 45 minutos. Jogou fechado na defesa e apostando em contra-ataques, na tentativa de surpreender a defesa do time inglês, que joga bastante adiantada. Fernando Diniz costuma dizer que seus times precisam ter “coragem para jogar”. O Fluminense é ofensivo e se lança ao ataque com muitos jogadores. O treinador brasileiro vai manter seu DNA e encarará um dos times mais fortes do mundo de peito aberto? Apesar de prezar pelo domínio da bola, o City é letal nos contra-ataques.
Antes da bola rolar, é impossível fazer previsões. Os últimos campeões brasileiros do Mundial de Clubes foram efetivos quando tiveram a bola no pé. Foi assim com São Paulo (2005), Internacional (2006) e Corinthians (2012). Nas poucas – ou única – chances que tiveram, colocaram a bola no barbante. Tiveram, também, atuações sólidas na defesa. Rogério Ceni e Cássio foram gigantes no gol e impediram o triunfo dos europeus. Fábio, do Fluminense, vai repetir a atuação da semifinal, quando parou o ataque do Al-Ahly em diversas oportunidades? O Manchester City será dominante e vencerá de forma acachapante ou jogará para o gasto, sem forçar, em um jogo protocolar? O Fluminense conseguirá a façanha de derrubar o atual campeão da Liga dos Campeões? São perguntas que as duas equipes responderão a partir das 15h desta sexta-feira. Seja qual for o desfecho, uma coisa é certa: o duelo entre Fernando Diniz e Pep Guardiola é um presente para quem aprecia o bom futebol.