“Quando terminei o ensino médio, não tive a oportunidade de frequentar uma universidade, assim como a maioria dos refugiados que vivem em campos, ou mesmo a grande maioria que vive em cidades.
“Quando terminei o ensino médio, não tive a oportunidade de frequentar uma universidade, assim como a maioria dos refugiados que vivem em campos, ou mesmo a grande maioria que vive em cidades. Eu não via esperança de cursar a universidade”, conta Nhial, em artigo publicado na CNN. Apenas 5% dos refugiados em todo o mundo estão matriculados em universidades ou outros programas de ensino superior, de acordo com o relatório educacional de 2021 da ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados.
“Eu queria ser livre, explorar o mundo, obter um diploma universitário e me tornar jornalista, ganhar a vida e sustentar minha família. A maioria dos refugiados não têm acesso às oportunidades que podem transformar esses sonhos em realidade. Esses campos deveriam ser temporários, mas as políticas de imigração limitam a capacidade de trabalhar, circular livremente e buscar uma educação. Embora eu sonhasse com outra vida, eu não tinha sequer um passaporte válido e visto de viagem.”
Ao descobrir o programa de Estudos de Paz e Conflito da Universidade da Califórnia, em Berkeley (Estados Unidos), Nhial disse: “É aqui que eu quero ir”. Ele conta que, ao receber a carta de aprovaçãoaceite, entre mais de 112 mil candidatos, dançou e cantou em comemoração — até descobrir que, como estudante internacional, não era elegível para ajuda financeira. Mas por meio da ONG Amala, um grupo de orientadores universitários se ofereceu para apoiá-lo. “Duas semanas depois, a Universidade de Huron, no Canadá, me ofereceu uma bolsa integral de quatro anos. Hoje, sou um orgulhoso estudante da Huron.”
Nhial cursa Estudos Globais e Comunicações Digitais na universidade canadense. Ele também trabalha como consultor e coordenador do Conselho de Educação para Refugiados da ONG Visão Mundial. Seu trabalho comunitário em Kaluma, que já impactou mais de 20 mil jovens, segue ainda mais forte.
Um de seus atuais projetos é o Kakuma Book Drive, movimento liderado por estudantes que reúne livros didáticos e visa a construção de uma biblioteca e centro comunitário para jovens no campo de refugiados de Kakuma. Inclusive, metade do prêmio de US$ 100 mil recebido por Nhial no Global Student Prize (onde concorreu com quase 4 mil estudantes de 122 países) será doado para essa iniciativa.
Confira, a seguir, recente entrevista de Nhial ao programa NYSE Floor Talk. Basta clicar em configurações para ativar as legendas em português
Nhial também coleciona prêmios internacionais: o Queen Elizabeth II Platinum Jubilee Award, pelo ativismo humanitário, o World Vision Hero for Children Courage Award 2023, por sua dedicação na defesa de refugiados e jovens, e o FilmAid Student Award 2021, reconhecimento pelo seu trabalho com refugiados.
“Hoje, tenho a sorte de participar de conferências e integrar alguns conselhos consultivos, onde advogo pela educação de refugiados, incluindo o Conselho de Educação para Refugiados do Canadá e a Força-Tarefa Global da ACNUR para Ensino Superior. Já dei entrevistas na CNN, BBC, CNBC e Al Jazeera, e meus textos foram publicados tanto pela CNN quanto pela Al Jazeera”, conta ele, sem deixar de falar da urgência em ouvir os refugiados. “Políticos e mídia precisam conversar mais com refugiados do que sobre refugiados”. Até o final de 2022, 108 milhões de pessoas foram deslocadas à força em todo o mundo. Em entrevista ao jornal The Guardian, ele falou sobre o potencial dos refugiados: “Eu acredito que todos têm algo a oferecer”.
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