A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) assinou, nesta terça-feira (26), acordos para iniciar sua Estratégia para Terapias Avançadas, que visa baratear e, assim, ampliar a oferta de terapias gênicas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
"A orientação é que [essas terapias desenvolvidas pela estratégia da Fiocruz] sejam incorporadas ao SUS", afirmou a ministra da Saúde, Nísia Trindade. "Essa não é apenas uma terapia importantíssima e inovadora. Há uma redução, em dez vezes, do custo dos tratamentos hoje disponíveis. O que significa multiplicar por dez o acesso a essa terapia."
O primeiro projeto a ser desenvolvido pela Estratégia para Terapias Avançadas envolve a reprogramação de células de defesa do organismo para combater alguns cânceres hematológicos, como linfomas e leucemias agudas. Será uma parceria da Fiocruz com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), que já desenvolve pesquisas nessa área.
"É um processo de reeducação da célula. A gente coleta as células do paciente e, em laboratório, a gente vai fazer uma modificação genética nelas, colocando um gene que leva à expressão de uma proteína que vai fazer essa célula passar a reconhecer essas células tumorais", explicou o pesquisador do Inca Martin Bonamino. "E, depois de todo o controle de qualidade, essa célula é devolvida, como se fosse uma transfusão, para o paciente."
A terapia chamada de CAR-T consiste em inserir, em linfócitos T (células de defesa) dos pacientes, lentivírus que carregam um gene específico para combater o tumor. Com o novo gene, o linfócito torna-se mais eficaz em encontrar o câncer no corpo e reconhecê-lo como algo a ser eliminado, enviando substâncias que vão causar a morte da célula cancerosa.
Para esse tratamento específico, cujo custo está em torno de R$ 2 milhões, existe a possibilidade de que o valor caia para R$ 200 mil. Além do desenvolvimento da terapia CAR-T, propriamente dita, haverá a produção dos lentivírus.
Os testes clínicos para validação da terapia da Fiocruz e do Inca deverão ser realizados a partir do fim deste ano, nos Estados Unidos e no Brasil.
Com a terapia validada, a ideia é que sejam instalados laboratórios em módulos de contêineres, que poderão ser instalados em hospitais de vários lugares do Brasil, possibilitando a descentralização da realização desses tratamentos.
"Nós aqui em Bio-Manguinhos, vamos aproveitar o conhecimento que a gente adquiriu durante a pandemia [de covid-19] para fazer a produção do lentivírus, que é o vetor viral. E também haverá módulos onde será realizado o processo de CAR-T. E esses módulos serão certificados pela Anvisa e por Bio-Manguinhos", explicou o diretor de Bio-Manguinhos, Mauricio Zuma.
Segundo a ministra Nísia Trindade, o barateamento das terapias gênicas beneficiará não apenas o Brasil, mas também poderá ajudar outros países da América Latina e da África.