Estudo realizado pelo Senai e H2Brasil mapeou profissões que serão demandadas pela produção do H2V. Áreas de engenharia, economia, regulação e legislação podem ganhar destaque neste segmento
O Brasil tem condições de produzir e exportar cerca de 3,8 milhões de toneladas de hidrogênio verde até o final de 2040, de acordo com o levantamento realizado pela McKinsey & Company. Isso garantiria mais de R$ 6 bilhões com a venda da tecnologia.
Segundo o gerente de Análise e Informações ao Mercado na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Ricardo Gedra, a Europa e o leste asiático em particular, apostam no hidrogênio verde para a descarbonização de suas economias e veem no Brasil um fornecedor importante dessa commodity.
"O Brasil tem uma grande demanda. Então nós devemos produzir, utilizar internamente esse produto. Muitos países estão buscando desenvolver o hidrogênio para ser um combustível, mas alguns serão autossuficientes, como os Estados Unidos e a Índia. Porém, Europa e leste asiático estão sendo indicados como regiões que precisarão de bastante hidrogênio, mas não conseguirão produzi-lo com baixa emissão na quantidade necessária. Então eles se tornam mercados compradores no âmbito Internacional, e o Brasil, então, tem a possibilidade de exportar para esses mercados", aponta.
O Brasil tem 82% da matriz elétrica proveniente de fontes renováveis, segundo a Agência Internacional de Energia Renovável (Irena). O país tem se destacado como um dos principais geradores de empregos no setor de energia renovável, ficando atrás apenas da China no número de postos de trabalho gerados. Para entender melhor esse cenário, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em parceria com o projeto H2Brasil, identificou quais profissões já podem atuar no segmento de hidrogênio verde.
Segundo o estudo intitulado "Mercado de hidrogênio verde e power to X: demanda por capacitações profissionais", os profissionais aptos a atuar na cadeia de hidrogênio verde no Brasil são engenheiros das mais diversas especialidades (mecânica, química, ambiental e de produção), profissionais ligados à regulação, tanto o lado econômico quanto o lado jurídico, além de profissionais de nível técnico de perfis já consolidados (como eletrotécnica, mecânica, química e outros) que recebam formação específica em H2V.
O superintendente de educação profissional e superior do Senai, Felipe Morgado, aponta que é necessário buscar qualificação de profissionais para implementar as plantas de hidrogênio verde no Brasil. "O Brasil tem um mercado potencial para produção de hidrogênio verde. Tanto o mercado interno quanto o de exportação e o Senai, sempre ligado a atender a demanda da indústria brasileira, busca se antecipar. E essa antecipação faz com que a gente consiga oferecer os cursos e capacitar os profissionais qualificados para aproveitar a oportunidade do hidrogênio verde no Brasil", explica.
No segundo semestre deste ano, será lançada a primeira pós-graduação em Hidrogênio Verde e PtX da rede, pelo Senai Cimatec, na Bahia, juntamente com um centro de excelência localizado no Rio Grande do Norte e mais cinco laboratórios regionais (Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Bahia e Ceará) voltados para a educação profissional e superior nesse novo setor.
"O Senai atualmente está investindo em vários estados no Brasil para implementar uma estrutura de hidrogênio verde, tanto estrutura de pesquisa e inovação quanto a estrutura de formação de pessoas. Tanto é que estamos com matrículas abertas em uma pós-graduação em hidrogênio verde, onde nós temos o objetivo de apresentar para os engenheiros, principalmente quais são as tecnologias e o que eles devem saber para atuar nesse novo mercado", completa Morgado.
Os cursos na área de hidrogênio verde terão matrículas abertas pelo Futuro.Digital são:
O Brasil começa a se atentar aos sinais de que o hidrogênio pode não só guiar a transição energética, mas também criar oportunidades econômicas. Em uma sinalização ao mercado, o governo aprovou uma resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que institui o Programa Nacional do Hidrogênio e cria o Comitê Gestor da política pública.
Na última quarta-feira (12), foi instalada a Comissão Especial para Debate de Políticas Públicas sobre Hidrogênio Verde no Senado. Durante dois anos o grupo deverá debater e avaliar políticas públicas sobre a tecnologia de geração de energia limpa. Para o senador e relator da comissão, Otto Alencar (PSD-BA), o Brasil precisa ser visto como um polo mundial de produção do hidrogênio verde.
"Agora o momento mais importante do Brasil é mostrar ao mundo que nós vamos ter tecnologia moderna para a geração de energia limpa, com possibilidade de não só suprir as necessidades do país, mas acima de tudo no futuro bem próximo, está exportando o hidrogênio verde", aponta.
Gedra acredita que a transição energética dos combustíveis fósseis da matriz energética mundial, para o hidrogênio verde em diferentes formas (amônia, querosene, entre outros) será positiva para o Brasil tanto para economia quanto para o contexto das mudanças climáticas.
"Se forma uma nova indústria, que quer dizer mais investimento, mais empregos. Então esse é um aspecto relevante para o desenvolvimento industrial. Essa geração elétrica tem que ser uma geração limpa, e onde eu tenho mais sol e mais vento, muitas vezes são em locais que não têm tanto desenvolvimento econômico, então acabo levando dinheiro para regiões. Esses são alguns aspectos que conseguem fazer com que seja possível haver um desenvolvimento econômico relevante para o país em termos de educação, emprego e renda. E tudo isso, colaborando com o aspecto ambiental", explica.
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