Indígenas Terena e Guarani Kaiowá da Reserva de Dourados, no Mato Grosso do Sul, foram feridos na manhã desta quarta-feira (27) durante ação da polícia para desobstrução da Rodovia MS-156.
Vídeos registrados pelos indígenas mostram pessoas feridas na perna e na orelha. As imagens mostram munições letais não deflagradas encontradas pelos manifestantes. De acordo com lideranças indígenas locais, os feridos foram levados para o Hospital da Vida, em Dourados.
Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ao menos 15 indígenas foram feridos, sendo que três deles são duas mulheres e uma criança, e que precisaram de internação hospitalar. De acordo com a entidade, dois indígenas foram presos.
"Os policiais invadiram a Aldeia Jaguapiru e atacaram moradias, idosos, crianças e uma escola", destacou em nota, o Cimi.
Pela manhã, a Tropa de Choque avançou em direção aos indígenas na rodovia e os empurrou para a reserva em Dourados até chegarem a Aldeia Jaguapiru, de acordo com o Cimi. "Os policiais invadiram as ruas da comunidade levando terror aos moradores, arremessando bombas, inclusive nas casas, e atirando em tudo o que se movia", ressaltou a entidade.
O deputado estadual Pedro Kemp (PT) denunciou a ação da polícia em sessão da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul na manhã desta quarta-feira. "Temos que repudiar aqui a ação truculenta do governo do estado por meio da Polícia Militar. A polícia não pode entrar na área indígena, como está fazendo nesse momento. Se morrer um indígena hoje em Dourados, a responsabilidade vai ser do secretário de Segurança Pública e do comando da polícia", disse.
Em nota, o governo do Mato Grosso do Sul afirmou que a Polícia Militar, após "esgotadas todas as vias de negociação, e para garantir os direitos constitucionais", agiu para desobstruir rodovias estaduais que estavam bloqueadas.
"[Os policiais militares] removeram entulhos e apagaram focos de incêndio nas pistas. As forças de segurança manterão efetivo para garantir a paz em todo território sul-mato-grossense. O governo estadual reforça seu compromisso com a transparência, refutando iniciativas político-eleitoreiras, e age em prol de um caminho de justiça e respeito".
O governo estadual disse ainda que manteve contínuo diálogo com os indígenas, em busca "de uma solução pacífica, e lamenta episódios de agressões e enfrentamentos".
Às 16h35, a rodovia ainda estava interditada e a polícia havia recuado em razão do aumento do número de indígenas que se dirigiram para a região. "Tem crianças, idosos, todos aqui. A gente quer apenas água. Água para viver, para tomar banho, para cozinhar, para comer, para dar remédio para nossos patrícios", disse a indígena Luzinete Reginaldo.
De acordo com lideranças indígenas locais, a falta de água ocorre há aproximadamente cinco anos por causa do aumento da população nas aldeias Jaguapiru e Bororó. São três poços para atender cerca de 18 mil indígenas. De acordo com o Cimi, a responsabilidade do fornecimento de água é do governo federal em parceria com o estados e prefeituras.
Em nota, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) e do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Mato Grosso do Sul, afirmou que mantém um contrato para a distribuição de mais de 70 mil litros de água potável por semana via caminhões-pipa e articula com a prefeitura de Itaporã o fornecimento de 100 mil litros de água por dia, sendo 50 mil destinados a Jaguapiru e 50 mil a Bororó.
"Além disso, estão em andamento a perfuração de dois novos poços, um em cada aldeia, em parceria com a Prefeitura Municipal de Dourados e a Secretaria de Estado e Cidadania, com previsão de conclusão em até 40 dias", diz o texto.
O ministério disse ainda que a Sesai também negocia uma solução conjunta com a Secretaria de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, com o governo estadual e a Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul (Sanesul). "A proposta inclui a extensão da rede de abastecimento que atende a região urbana de Dourados e a formalização de convênios para operação e manutenção do sistema, visando soluções estruturais e de longo prazo".
De acordo com o ministério, as comunidades já contam com 14 sistemas simplificados de abastecimento de água, e que eles "não atendem plenamente à demanda local devido a altos índices de desperdício e uso inadequado da água tratada".