Afinal, o Brasil vai bem ou vai mal? É para ter esperança com as medidas do governo ou ficar preocupado com o futuro incerto que nos desafia? Será que alguma vez a situação foi muito diferente dessa que vivenciamos? Vou começar com a minha própria experiência de vida.
Afinal, o Brasil vai bem ou vai mal? É para ter esperança com as medidas do governo ou ficar preocupado com o futuro incerto que nos desafia? Será que alguma vez a situação foi muito diferente dessa que vivenciamos? Vou começar com a minha própria experiência de vida. Refletindo sobre o presente, percebo que minhas opiniões, ainda que sustentadas em longa vivência pessoal, não escaparam de influências externas.
Tive algumas certezas que se mostraram enganosas. Por exemplo, mesmo sabendo que não há um período sequer sem algum tipo de turbulência econômica, política ou social, fui iludido a pensar que vivia instantes de calmaria. Logo constatei que estava equivocado. Na verdade, bons e maus momentos se sucedem e, em certas circunstâncias, ocorrem simultaneamente. O nosso país hoje pode ser visto por prismas mais ou menos otimistas ou pessimistas, dependendo do viés ideológico e do tipo de informação a que estiver exposto o analista.
Um desses momentos em que estive no olho do furacão foi o alvoroço do Plano Cruzado. Lançado pelo então presidente José Sarney, o plano visava combater uma inflação descontrolada, congelando preços para deter sua escalada.
A mobilização da população foi tamanha que surgiram campanhas em jornais e programas de rádio, incentivando cidadãos a denunciarem comerciantes que burlassem o congelamento. Eram os famosos "Fiscais do Sarney". Mesmo sendo economista e tendo estudado os malefícios das políticas de congelamento de preços, vacilei e embarquei na ideia.
Houve casos absurdos, como o de um grande empresário que teve de ir à Polícia Federal prestar esclarecimentos porque haviam aumentado o preço do papel higiênico. E outro, ainda mais grave, em que o governo federal ordenou que a polícia confiscasse bois em fazendas, sob a justificativa de garantir o abastecimento de carne aos consumidores. Imagine só, policiais laçando bois no pasto!
Esse senso de participação coletiva, porém, foi corroído pela frustração quando os preços dispararam novamente. Sem os ajustes fiscais necessários, as medidas desmoronaram rapidamente. A euforia deu lugar à decepção, e a alegria durou pouco. E descobri que aquela minha convicção era só um devaneio.
Vivemos um paradoxo constante. De um lado, comemoramos a taxa de desemprego de 6,2%, a mais baixa desde 2012. Mais pessoas empregadas significam famílias que conseguem sustentar-se e planejar um futuro melhor. Mas na mesma capa de jornal, a disparada do dólar acima de R$ 6 e o aumento da inflação no atacado deterioram qualquer otimismo.
O pacote fiscal do governo, que deveria servir de alento, também não convence. A promessa de economizar R$ 327 bilhões impressiona, mas sem detalhamento, os especialistas permanecem céticos. Afinal, são objetivos viáveis ou mais um jogo de cena?
Mesmo em tempos de crise, a confiança pode ser o maior ativo de uma economia. Quando gestores públicos inspiram credibilidade, o mercado lhes dá o tempo necessário para executar seus planos. Sem confiança, entretanto, até as propostas mais promissoras enfrentam o risco do fracasso. No Brasil, a confiança está em baixa, o que agrava ainda mais o quadro.
Um bom exemplo da importância dessa credibilidade foi dado em países como a Alemanha e o Japão. Nessas nações, a recuperação econômica pós-guerra foi sustentada por lideranças que souberam conquistar a confiança de seus cidadãos e parceiros internacionais. Em nosso país, essa coesão entre governo, mercado e sociedade ainda parece distante, perpetuando as incertezas.
No campo político, as ações do Supremo Tribunal Federal chamam atenção. O uso frequente de prisões preventivas tornou-se uma prática controversa. Para alguns, é um reflexo de firmeza e determinação nas investigações sobre supostas tentativas de golpe. Para outros, configura um desvio de limites constitucionais.
Essas tensões, longe de trazer estabilidade, contribuem para ampliar o clima de incerteza. O envolvimento do Judiciário em disputas políticas parece não resolver os problemas; ao contrário, pode aprofundá-los.
Viver em meio a problemas parece ser parte da normalidade brasileira, mas isso não justifica a insistência em adicionar combustível ao incêndio. Os desafios já existentes bastam para alimentar conflitos e incertezas. Por que não usar os recursos e a inteligência disponíveis para amenizá-los? Afinal, é a confiança e não a "barata voa" que transforma promessas em realidade. Siga pelo Instagram: @polito