A fila de fãs e admiradores para se despedir da cantora Rita Lee, conhecida como a rainha do rock, começaram cedo e duraram por todo o dia no planetário do Parque Ibirapuera, na capital paulista.
"Já aconteceu de tudo. Tivemos dois Elvis Presley, tivemos um cara querendo ressuscitar ela. Eu amo muito a Rita, tem tanta coisa que ela deixou. Bacana que o trabalho dela só aumenta e é muito interessante ver quanta criança está vindo aqui e sabendo as músicas de cor."
A jornalista e apresentadora Astrid Fontenelle classificou a obra e a carreira de Rita Lee como um acerto integral, fase a fase. Ela elogiou a maneira de Rita falar e alcançar todas as mulheres, de todas as faixas etárias, acompanhando a vida das pessoas e os assuntos de acordo com cada período.
"Ela vem sob medida para todas as pautas que eu tenho trilhado nos últimos 11 anos do programa Saia Justa. Rita é uma fonte de inspiração para nós como mulheres e para nós como jornalistas. Toda canção dela é pauta para nós de alguma forma e ela foi uma precursora quando nós não tínhamos coragem de falar sobre alguns assuntos."
O filho de Rita, João Lee, afirmou que estar vivo no mesmo momento em que ela foi um privilégio, principalmente pela sua construção de uma história e um universo tão gigantesco que não se limita à música.
"Ela foi uma conjuntura de fatores tão difíceis de ter. Canta bem, escreve música, compõe, desenha cenografia, faz a roupa, escreve livro. Ela sempre foi muito única e uma força de vontade de realizar tudo isso. Muito difícil imaginar na época que isso tudo começou a acontecer, com ditadura, com tudo, mas ela sempre teve essa força."
João Lee enfatizou a grandeza de Rita lembrando a quantidade de pessoas que foram impactadas por suas obras e ideias. E destacou o fato de ser filho da padroeira da liberdade, como ela mesma se referia a si. "É espetacular, especial. Poder conviver dia a dia com uma pessoa tão iluminada, com uma cabeça tão diferente e tão à frente de tudo foi uma honra para mim", disse, emocionado.
O propagandista Luiz Felipe, de 32 anos, contou que quis ir à despedida porque cresceu ouvindo sua mãe falar sobre Rita Lee, estudando a história dela na época da censura. Ele disse ser torcedor do Corinthians e ter em sua memória a passagem de Rita pelo movimento Democracia Corinthiana, junto com os jogadores Sócrates e Casagrande, momento que considera incrível. O movimento surgiu na década de 1980, liderado por um grupo de jogadores do Corinthians que se manifestavam contra a ditadura militar.
"Ela também é um elo meu e da minha mãe, porque o primeiro CD que ganhei da minha mãe foi Rita Lee ao Vivo 1999, aos 9 anos. Ela me contava a história das músicas e como ela não podia cantar algumas músicas porque meu avô batia nela por causa das letras. Nem por isso ela deixava de cantar. Isso foi o que Rita passou, a importância de ser mulher e ter seu lugar de fala e resistência", afirmou.
A cantora foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e desde então tratava da doença. A família confirmou a morte nas redes sociais dela nessa terça-feira (9). Ela morreu em sua residência, em São Paulo, no final da noite de segunda-feira. "Cercada de todo amor e de sua família, como sempre desejou", informou o comunicado da família.