Auditores fiscais do trabalho encontraram trabalhadores sem EPIs, ganhando 50 centavos por paralelepípedo produzido
A detonação é a primeira das etapas para a produção do paralelepípedo. Wesley* conta que ela proporciona o descolamento dos blocos de granito do solo, facilitando o corte das pedras. A preparação é caseira: é necessário apenas fios, uma bateria, e a mistura de clorato de potássio com açúcar.
"Tem alguns que já perderam a mão, outros parte da mão, e alguns perderam a visão. Por motivo de explosão. Tem que se afastar bastante para ficar longe do risco", revela o trabalhador.
Entre os dias 3 e 5 de abril, o Brasil de Fato acompanhou uma operação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em pedreiras da região da Zona da Mata Alagoana, historicamente conhecidas pelas condições degradantes de trabalho.
Em uma das pedreiras fiscalizadas, na zona rural de Murici, a 55 km de Maceió (AL), a Inspeção do Trabalho encontrou 44 pessoas em situação análoga à de escravo. Todos homens.
Os trabalhadores estavam em condições degradantes de trabalho, moradia e de submissão a jornadas exaustivas, elementos que caracterizam a escravidão contemporânea, com base no artigo 149 do Código Penal.
"Eles estão debaixo do sol, sem uma proteção adequada, quebrando pedras com risco de lascas virem aos olhos, sem utilizar óculos de proteção, sem luvas, com botas inadequadas ou mesmo de chinelos. Há também outros meios de segurança que não estão sendo verificados, como por exemplo a detonação das rochas. Está sendo feito de forma totalmente improvisada, artesanal e com risco associado muito maior", explica Gislene Ferreira dos Santos Stacholski, auditora fiscal do trabalho que coordenou a operação.