“Temos trabalhado com o Comitê Organizador de Paris e com os governos federal e municipal. Queremos entregar um evento do mais alto nível, com a melhor estrutura aos atletas, instalações esportivas em áreas diferentes da cidade, junto de lugares icônicos. Temos a expectativa de um legado de mudança de atitude [em relação à pessoa com deficiências], de investimento em acessibilidade. O público da Paralimpíada é diferente, muitas vezes mais doméstico, de famílias, até por isso a política de preços é ajustada para ser mais barata [que na Olimpíada]”, argumentou o dirigente, que é brasileiro.
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No segmento olímpico, o assunto é polêmico. O último Campeonato Mundial feminino de boxe, por exemplo, foi boicotado por 11 países (Estados Unidos, Grã-Bretanha, Irlanda, República Tcheca, Canadá, Suécia, Suíça, Holanda, Polônia, Noruega e Ucrânia), que não concordaram com a presença de russos e bielorrussos, ainda mais por estes não precisarem competir como neutros, como ocorre no tênis por exemplo.
“A diferença é que nós já vivemos essa situação, porque a invasão foi entre a Olimpíada e a Paralimpíada de Inverno de Pequim [China, no ano passado]. A primeira decisão, como comitê executivo, foi pela participação [de russos e bielorrussos] como atletas neutros, porque era o que, de acordo com nosso estatuto, podíamos fazer. Até aquele momento, os Jogos não estavam em risco. Com o anúncio da decisão, muitos governos e comitês nacionais ameaçaram realmente tirar os atletas. Os Jogos entraram em risco, aí você consegue ativar outro dispositivo estatutário e não aceitamos as inscrições de atletas russos e de Belarus”, recordou Parsons.
“Desta vez, como a decisão será tomada em assembleia, acho que há um peso diferente, porque é uma decisão colegiada, de todos os comitês do mundo. Então, qualquer decisão que for tomada, acho que haverá respeito dos comitês paralímpicos nacionais”, emendou.
No fim de março, o Comitê Olímpico Internacional (COI) recomendou a liberação de representantes das duas nações em competições individuais, como atletas neutros, mas fora das disputas por equipes e coletivas. A orientação não trata, especificamente, da Olimpíada de Paris. O presidente do IPC reforçou, porém, que a posição da entidade não depende, necessariamente, do que o COI definir.
“A gente monitora o que acontece nas decisões do COI, que é nosso maior parceiro, mas somos entidades autônomas, que tomam decisões às vezes alinhadas, às vezes não. Nos Jogos [do] Rio [de Janeiro, em] 2016, na questão do doping da Rússia, tivemos uma decisão diferente [os russos foram liberados para competir na Olimpíada, mas não na Paralimpíada]. No momento, os comitês de Rússia e Belarus não podem inscrever atletas em nenhuma competição sancionada pelo IPC. Em algumas modalidades também atuamos como federação, em outras a decisão é de cada federação”, explicou Parsons.
“A assembleia é formada por todos os comitês do mundo e federações internacionais. Pode ser que se tome uma decisão específica quanto a Paris 2024, ou até Milano-Cortina [Itália, sede da Paralimpíada de Inverno, em] 2026. E, obviamente, vamos monitorar a situação da Ucrânia, ver a questão da guerra, se houve algum desenvolvimento para a paz, como isso pode afetar [a decisão]”, completou.
Equidade de gênero
A Paralimpíada de Paris será a de maior representatividade feminina na história do evento, com 235 disputas por medalhas (42,8% do total) e 1.859 vagas (42,5%) destinadas às mulheres. Segundo Parsons, a meta do IPC é atingir a equidade de gênero nos Jogos de Brisbane (Austrália), em 2032.
“Desde Sydney [Austrália, em 2000], mas especialmente depois de Pequim [2008], estamos aumentando de forma sólida as vagas femininas. Mas outra preocupação é desenvolver lideranças femininas. Em 2021 mudamos nosso estatuto em vários aspectos e um deles é [aumentar] a representação feminina em vários níveis, desde as comissões. O atleta é o principal, fundamental, mas precisamos dessas lideranças”, afirmou o dirigente, que enumerou razões para a presença masculina no paradesporto ainda ser numericamente superior.
“Em muitos países é uma questão cultural, do acesso da mulher em geral e com deficiência ao esporte. Existem também fatores como o percentual de homens vítimas de acidentes ser maior. Mas o fundamental é o aspecto cultural e como você proporciona a entrada das mulheres com deficiência ao esporte em nível nacional. Como fazer para atrair mais mulheres, é cultura, [derrubar] tabus, que vai mais além”, concluiu.
Agencia Brasil