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Meta alterou política sobre conduta de ódio e passou a permitir comportamentos que eram proibidos, como publicar xingamentos em posts que discutam direitos de pessoas transgêneros ou associar o público LGBTQIA+ a doenças mentais. Facebook e InstagramAP Photo/Richard DrewA Meta mudou sua política sobre conduta de ódio na semana passada, permitindo agora vários comportamentos que antes eram proibidos no Facebook, no Instagram e no Threads.A mudança causou preocupação entre especialistas, que temem que as plataformas se tornem mais hostis para grupos vulneráveis. No Brasil, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) é uma das organizações que criticaram a medida.A nova política foi divulgada no mesmo dia que Mark Zuckerberg anunciou o fim do programa de checagem de fatos nas plataformas. Importante: mesmo que as redes sociais da Meta fiquem mais permissivas com ofensas e condutas preconceituosas, quem comete racismo ou injúria racial pode ser denunciado e pegar de dois a cinco anos de prisão o Brasil. O mesmo vale para atos de homofobia e de transfobia. Todos esses crimes são inafiançáveis e não prescrevem.O que a Meta vai permitir nas suas redes sociais agoraChamar uma pessoa LGBTQIA+ de "doente mental", "anormal" ou "esquisito" [veja a diretriz original abaixo]."Permitimos alegações de doença mental ou anormalidade quando baseadas em gênero ou orientação sexual, considerando discursos políticos e religiosos sobre transgenerismo e homossexualidade, bem como o uso comum e não literal de termos como 'esquisito'." Dizer que pessoas LGBTAQIA+ ou mulheres não podem praticar determinados esportes, participar de ligas esportivas ou frequentar determinados banheiros ou escolas [veja o original abaixo]."[São proibidas publicações que contêm] Exclusão social, no sentido de negar acesso a espaços (físicos e online) e serviços sociais, com exceção de exclusões baseadas em sexo ou gênero em espaços geralmente restritos por essas categorias, como banheiros, esportes e ligas esportivas, grupos de saúde e apoio, e escolas específicas."Dizer que mulheres ou pessoas LGBTQIA+ não podem ocupar cargos militares ou trabalhar como policiais [veja o original abaixo]. A diretriz foi alterada após o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, prometer tirar pessoas transgêneros do Exército e de escolas em seu primeiro dia de governo."Permitimos conteúdo que defenda limitações baseadas em gênero para empregos militares, policiais e de ensino. Também permitimos conteúdo similar relacionado à orientação sexual, desde que fundamentado em crenças religiosas."Xingar alguém no contexto de uma discussão sobre política, religião, direitos do público LGBTQIA+ ou imigração [veja o original abaixo]. No trecho, a Meta diz que as políticas permitem o uso de ofensas ou que o usuário se coloque contrário aos direitos desses grupos em postagens."Às vezes, as pessoas usam linguagem específica de sexo ou gênero para discutir o acesso a espaços geralmente restritos por essas categorias, como banheiros, escolas, cargos militares, policiais ou de ensino, além de grupos de saúde ou apoio.""Em outros casos, solicitam exclusão ou recorrem a linguagem ofensiva ao abordar tópicos políticos ou religiosos, como direitos de pessoas transgênero, imigração ou homossexualidade. [...] Nossas políticas foram criadas para dar espaço a esses tipos de discurso."O que a Meta apagou da lista de "proibido"A Meta também apagou de sua lista de comportamentos proibidos alguns insultos ou condutas preconceituosas que se referiam a mulheres, pessoas LGBTQIA+, negros e muçulmanos.O g1 questionou a Meta para saber se a remoção dos termos implica que esses comportamentos serão permitidos a partir de agora. A empresa não respondeu diretamente, enviando um comunicado em que aborda genericamente as mudanças na moderação das plataformas.Alguns exemplos de proibições que foram apagadas:Comparar mulheres a "objetos domésticos", "propriedade" ou "objetos no geral".Expressar que um gênero é superior a outro. Se declarar intolerante em relação a outros grupos. Nesse trecho, a política anterior da Meta proibia explicitamente que alguém se autodeclarasse como "homofóbico", "racista" ou "islamofóbico" - essa restrição também foi retirada.Dizer que uma pessoa ou um determinado grupo espalhou ou foi responsável pela existência do coronavírus.Na versão em inglês, foi retirado o trecho que proibia que o usuário se referisse a pessoas transgêneros ou não binárias pelo pronome 'it', usado para objetos ou animais e pejorativo quando direcionado a alguém. Grupos LGBTQIA+ recomendam a utilização de pronomes que estejam de acordo com o gênero que a pessoa se identifica.LEIA TAMBÉM:Meta encerra programa interno de diversidade e inclusãoMudanças podem fazer Instagram e Facebook virarem novos 'X', dizem especialistas'Energia masculina é boa e a cultura corporativa estava fugindo dela', diz ZuckerbergMeta, dona de Instagram e Facebook, encerrará sistema de checagem de fatosEmpresa também encerrou programa de diversidadeAlém das alterações nas plataformas, a Meta também confirmou à agência Associated Press, no último dia 10, que está encerrando seu programa interno de diversidade, equidade e inclusão. Ele englobava contratação e treinamento de funcionários e seleção de fornecedores.Na prática, a Meta não terá mais uma equipe focada em diversidade e agora "se concentrará em como aplicar práticas justas e consistentes que mitiguem o preconceito contra todos, não importando sua origem", segundo um comunicado enviado aos funcionários.Fim da checagem de fatos e outras mudançasO fim da checagem dos posts por terceiros no Facebook, Instagram e Threads foi anunciado pelo presidente-executivo da Meta, Mark Zuckerberg, no último dia 7. Na publicação, ele disse que a empresa irá colaborar com Donald Trump para combater supostas tentativas de censura. Mark Zuckerberg anuncia que Meta vai encerrar sistema de checagem de fatosPrincipais mudanças anunciadas pela Meta:atualização de sua política de "conduta de ódio", removendo restrições a permitindo comentários discriminatórios contra determinados grupos.a Meta deixa de ter os parceiros de verificação de fatos ("fact checking", em inglês) que auxiliam na moderação de postagens, além da equipe interna dedicada a essa função;em vez de pegar qualquer violação à política do Instagram e do Facebook, os filtros de verificação passarão a focar em combater violações legais e de alta gravidade.para casos de menor gravidade, as plataformas dependerão de denúncias feitas por usuários, antes de qualquer ação ser tomada pela empresa;em casos de conteúdos considerados como de "menor gravidade", os próprios usuários poderão adicionar correções aos posts, como complemento ao conteúdo, de forma semelhante às "notas da comunidade" do X;Instagram e Facebook voltarão a recomendar mais conteúdo de política;a equipe de "confiança, segurança e moderação de conteúdo" deixará a Califórnia, e a de revisão dos conteúdos postados nos EUA será centralizada no Texas (EUA).