A prefeitura do Rio de Janeiro investirá mais de R$ 64 milhões no Pró-Carioca Audiovisual, programa de Fomento Carioca de 2023 lançado nesta quarta-feira (26), no Palácio da Cidade.
O secretário municipal de Cultura, Marcelo Calero, destacou a importância de uma política pública abrangente para a cidade, incluindo desde o cineclube, que faz o seu trabalho nas comunidades, até as produções chamadas de consolidadas. "Essa política abrangente se preocupa com os vários segmentos e também com políticas afirmativas das quais não abrimos mão. Políticas de democratização e de territorialização", enfatizou o secretário.
Segundo o prefeito Eduardo Paes, a cidade do Rio está de novo em um bom momento e, para continuar, é preciso usar elementos do passado e olhar para o futuro, pensando em grandes projetos. Paes disse que investimentos no setor de audiovisual resultam na melhoria da atividade econômica, e um dos reflexos dessa política é o aumento dos empregos e o impacto na cadeia produtiva do município.
As produções de cinema de rua, a formação profissional e a promoção internacional do audiovisual da cidade estão incluídos no Pró-Carioca Audiovisual. "O cinema de rua tem papel fundamental na movimentação das economias locais e na construção da cadeia exibidora. Em boa hora, a lei Paulo Gustavo nos permitiu fazer este investimento", disse Calero.
A diversidade estará presente em ações afirmativas do programa. Os editais têm regras claras de pontuação adicional, com prioridade para grupos e territórios, entre os quais, mulheres, negros, população LGBTQIA+, indígenas e pessoas com deficiência. "Essa democratização engloba programas de ação afirmativa, fazendo com que segmentos que tradicionalmente têm dificuldades de acessar recursos públicos finalmente possam ter, por meio de pontuação adicional, a chance de serem contemplados nos nossos editais", disse Calero.
A produtora de cinema Lucy Barreto elogiou o destaque para a diversidade nos projetos que serão apoiados pelo programa. "É importantíssimo porque somos um país de diversas raças, e a maior parte nunca teve essa oportunidade. Então estava mais que na hora disso acontecer", disse Lucy à Agência Brasil.
O cineasta e historiador Sílvio Tendler também mostrou-se animado com o investimento no setor de audiovisual: "É fundamental, estou encantado porque achei o projeto grandioso. O Rio de Janeiro merece, e a cultura precisa."
A inscrição dos projetos começa nesta quinta-feira (27) e vai até 25 de agosto e pode ser feita na área de editais do site da RioFilme, que traz a íntegra dos textos dos editais.
A coordenadora de Seleção e Contratação de Investimentos da RioFilme, Carol Ribeiro, começará a se reunir com produtores de periferias em sete regiões da cidade para explicar como os projetos devem ser apresentados e quem pode se candidatar ao edital. Segundo Carol, a prefeitura quer aumentar a parcela desse público participando de linhas de editais como o de curta-metragem de novos realizadores, de ações em cineclubes e de pequenas oficinas de formação.
"Nossa ideia é fazer um giro na cidade, apresentando basicamente quem pode se inscrever, que tipo de proposta, critérios de avaliação de propostas, ações de passo a passo. Além disso, estamos construindo em nosso site um espaço de perguntas frequentes, e há também apresentações com tutoriais", informou Carol.
Na cerimônia, o prefeito Eduardo Paes anunciou também a ampliação em R$ 4 milhões da participação do município no sistema cash rebate, resultado do Edital de Incentivo à Atração de Produções Audiovisuais para o Rio de Janeiro, que inicialmente tinha previsão de R$ 12 milhões para produções nacionais ou internacionais que escolhessem o Rio de Janeiro como cenário. Desse valor, R$ 10 milhões vão para produções internacionais e R$ 2 milhões para as brasileiras.
A ideia com esse edital é atrair produções internacionais e de outros estados do Brasil para que filmem no Rio, disse Marcelo Calero. Para o secretário, a economia da cidade será favorecida direta e indiretamente em diferentes segmentos. Em 2022, o edital atraiu R$ 67 milhões para a economia da cidade, com impacto de R$ 82 milhões na economia local.
Para dar visibilidade às locações cariocas no cenário audiovisual internacional, foi anunciada ainda a criação do selo Filmado no Rio (Filmed in Rio), que será aplicado nas obras que tiverem a cidade como locação principal em suas histórias e também as produções que tiverem o apoio da Rio Film Commission.
Os investimentos da Prefeitura do Rio têm espaço ainda para homenagens. Na solenidade, a RioFilme anunciou a criação do Cine Carioca José Wilker, em Laranjeiras, que vai funcionar como centro de referência das artes e do cinema brasileiro. Uma licitação para reestruturação e gestão desse espaço garantirá a aplicação de mais de R$ 1,4 milhão.
Mariana Vielmond, filha do ator, que morreu em 2014, disse que ter o nome do pai em um espaço cultural é um reconhecimento ao trabalho dele. "Meu pai está muito associado ao Rio de Janeiro, a cidade em que ele escolheu morar. Que a cidade tenha uma sala de cinema em homenagem a ele completa um ciclo. É um lugar de divulgação de cultura, uma coisa que ele sempre quis, a cultura ampla, aberta e acessível", disse Mariana à Agência Brasil.
O programa Viva o Cinema de Rua contará com R$ 3,5 milhões para desenvolver oito propostas de reforma, manutenção e funcionamento de salas de exibição no Rio de Janeiro. A contrapartida será o ingresso mais barato para filmes brasileiros e os de pequena distribuição, considerados como de "arte". A expectativa é de ingressos a R$ 5, por meio do subsídio da RioFilme.
A contrapartida se estende ainda à reserva de 10% dos ingressos para distribuição gratuita a estudantes e professores das redes públicas municipais e estaduais, com direito a um acompanhante. Além disso, existe a obrigatoriedade de exibição de filmes brasileiros em volume 10% superior ao estabelecido pela Cota de Tela, que é a obrigação legal, adotada por muitos países, de exibir um mínimo de obras nacionais no cinema ou na televisão.
O CineCarioca Nova Brasília, no Conjunto de favelas do Alemão também será reformado. O volume de R$ 800 mil será usado em reparos elétricos, troca de ar-condicionado, projetor, poltronas e pipoqueira. Pelos dados da prefeitura, a programação da sala atende cerca de 60 mil pessoas de 15 comunidades da região. Por meio do subsídio da RioFilme, o CineCarioca Nova Brasília oferece, desde a reabertura em 2021, quatro sessões diárias de filmes com ingressos a R$ 5.
Os investimentos no setor de audiovisual também serão notados fora do país. Para a promoção internacional do audiovisual carioca, a prefeitura informou que uma missão com produtores audiovisuais da cidade, liderada pela RioFilme, estará no Festival de Cannes, na França, em 2024.